sábado, 31 de maio de 2014

CAMISINHAS TERRORISTAS


O governo dos Estados Unidos, embora reconhecendo “a enorme esforço da governo brasileira para incentivar o prática sexual seguro”, emitiu orientação aos garanhões americanos que vierem assistir aos jogos da Copa do Mundo: “se desejar fazer fuck-fuck na Brasil, pelo caridade, levar os camisinhas daqui, pois os distribuídas em Buenos Aires não valer cem e um cocada”.

Oh! Myyyyy! God! A preocupação procede. Após o 11 de Setembro, agentes da CIA encontraram a caverna cinco estrelas onde Osama Bin Laden costumava se hospedar no Afeganistão e perceberam, numa das paredes, a seguinte mensagem escrita em árabe:دعونا يخصوا الأميركيين من الأخضر والأصفر”, o que significa “Vamos capar os estadunidenses de verde e amarelo”.

Cara, presta atenção, o negócio é irado, coisa de agente ultrassecreto, ultrainteligente, ultra, mega, supersagaz: Osama... castrar... verde e amarelo... Entendeu? Manjou a conexão? Porra, as palavras do ex-líder da Al-Qaeda, antes mesmo da escolha da sede dos jogos, sugeriam a fabricação de preservativos-bomba a serem introduzidos em 2014 na saúde pública da nação canarinha.

São camisinhas de alta tecnologia equipadas com microexplosivos acionados pelo orgasmo em inglês. Gemeu “Oh, Yes!”, as bombinhas se armam no instrumento armado e aumentam a fricção para que a coisa esquente. Gritou “I’m cumming! I’m cumming!”, começa a contagem estilo 24 Horas, “ti-ti-ti-ti”, até a precisa desintegração do membro. E sem atingir a parceira ou o parceiro.

Os sexoterroristas pensaram em tudo para não deixar dick sobre dick, dong sobre dong, cock sobre cock. Por exemplo, o boy com ejaculação precoce, que por motivos óbvios não vencer a fase do “Oh, Yes!” para chegar à do “I’m cumming! I’m cumming!”, terá uma toxina injetada no órgão, à base daquela pomada para verrugas que trazia no rótulo a inscrição “endurece, amolece e cai”.

Fosse eu um americano interessado, como diz o poeta Mauro Mota, em “varrer da face do mundo/ regimes ditatoriais/ e democratizar todas/ as terras continentais/ a começar pelos sexos/ das meninas nacionais”, desistiria da missão e não transaria no Brasil nem usando camisinha testada por Bill Clinton. Seguro, nesse caso, é fazer justiça com as próprias mãos no WC da Casa Branca.

sábado, 24 de maio de 2014

O guru


Há mais mistérios entre o céu e a terra do que toda a sagrada filosofia de Juvêncio Bedegueba. Quando o mundo pensava que meu amigo Bruno Emanuel Pinto Barreto Cirilo cairia na gandaia, depois das últimas acontecências, o galego surpreendeu amigos e inimigos, em plena redação do O Mossoroense, com direito a fotografia, bolo e ponche, ao anunciar que pedirá demissão de jornal, rádio, TV e assessoria de comunicação, bem como renunciará a toda a forma de pecado, incluindo álcool e rock and roll.

Ateu convicto e militante, ele agora jura de pés juntos, mãos postas e olhos rútilos que, após década e meia, 26 dias, duas horas, três minutos e nove segundos de árduos embates filosóficos com nosso editor Márcio Costa, uma centelha de luz divina o penetrou, não no fundo, garante, mas profundamente, abrindo-lhe os olhos fechados para a espiritualidade desde quando frequentava as moçoilas do Canto do Mangue, o Alto do Louvor de Natal, sendo que na parte debaixo do vestido da Noiva do Sol.

A coisa é tão impressionante que até me esqueci dos pontos, limitando-me praticamente a vírgulas nos parágrafos anteriores, num emaranhado de orações subordinadas. Perdão, leitor, se o fiz perder o fôlego. Também estou afogueado. O anúncio do pequeno Barreto, sobrinho preferido de Emanuel Barreto, o Velho Barreto, meu querido professor da faculdade de jornalismo da UFRN, tomou-nos de supetão, em especial o desfecho: vai se mudar de cidade, de Estado, de País, tudo em prol de nossas almas.

Digo “nossas almas”, assim, convicto, porque ele, já distribuindo as primeiras vibrações positivas, assegura que intercederá por nós lá do Tibet. Sim, o Tibet, a capital espiritual do Universo, onde passará os sete primeiros anos de sua jornada em busca da verdade, ouvindo todos os supostos envolvidos nos enigmas da fé. A viagem, diz ele, começará 31 de fevereiro de 2015, no Templo dos Monges Virgens de Lhasa, a 3.683 metros acima do nível do mar, entre o Palácio de Potala e o Templo de Jokhang.

Inspirado nele, doravante meu líder espiritual, guru, futuro braço esquerdo do Dalai Lama, retiro-me da noite. Adeus, Snob, Psiu, Realce, Ferrão, Marrom Glacê, Burburinho, Vênus. Renego a cachaça, nada de Tatuzinho, Murim Mirim, Malhada Vermelha. Entrego-me ao celibato amplo, geral e irrestrito, sem anistia, certo de não voltar a cair nas tentações de Dorinha, Do Céu, Bataclã, Casa Grande, Paraibana, Creuza. Boêmia, não chores por mim, a santidade me espera, por obra de Bruno Barreto.

domingo, 18 de maio de 2014

MANCHA BRANCA


O fato de eu haver sido candomblecista na adolescência rende ainda comentários preconceituosos quanto àquela escolha, porque, a despeito da Lei Áurea, os grilhões ideológicos persistem nos pulsos e tornozelos de qualquer costume de origem africana. E olhem que sou agnóstico há cerca de 20 anos, o que também não é fácil sustentar numa sociedade onde o cristianismo da boca para fora é majoritário e, às vezes, irascível.

Quando digo qualquer costume, não exagero. Na década de 1990, um parente distante criticou-me duramente porque decidi praticar capoeira: “coisa de vagabundo”! E a ideia não era apenas dele. Lembro-me como se fosse hoje, o dia em que a polícia cercou o grupo do qual eu fazia parte, o Abadá Capoeira, do professor Dody, e nos ameaçou prender se não encerrássemos a apresentação na praça do Mercado Central.

Fiquei indignado e procurei o chefe de polícia autor da “ordem de prisão”, amigo cuja identidade tomo a liberdade de resguardar. Perguntei-lhe o motivo de tudo aquilo, se, além de manifestação cultural e esportiva, capoeira não é crime. A justificativa foi semelhante à crítica do parente, de nome igualmente preservado: “coisa de marginal!”, visão distorcida, traço de racismo que, não se engane, persiste no tempo da Globalização.

Quer prova? Vamos lá, cara-pálida! O Ministério Público Federal (MPF) do Rio de Janeiro ingressou com ação civil pública, mediante representação da Associação Brasileira de Mídia Afro, solicitando a retirada de 15 vídeos do Youtube, em que extremistas de outro credo execram fiéis da umbanda e do candomblé com expressões deploráveis que, acima do ódio gratuito, revelam nível penoso de intolerância e discriminação.

O caso foi parar na 17ª Vara Federal da seção judiciária carioca, na responsabilidade do senhor doutor juiz de direito etc etc etc Eugênio Rosa de Araújo, que negou o pedido do MPF para que o conteúdo seja retirado da Internet, até que se resolva o mérito da questão, utilizando-se, a excelência, de argumentos que extrapolam os limites da razoabilidade necessária ao exercício de um tal livre convencimento do magistrado.

Poderia, como o fez, basear a decisão nos direitos fundamentais a opinião, reunião e religião, e pronto, o que, no meu reles entendimento, já seria absurdo, por ignorar direitos igualmente fundamentais das pessoas difamadas e injuriadas nos vídeos. Até onde se sabe, honra, intimidade, vida privada, livre exercício de cultos, liberdade de consciência e de crença também são valores constitucionalmente assentados e garantidos.

O problema é que o meritíssimo, consciente ou não da carga ideológica e dos reflexos de seu discurso, disse, sem meias palavras, que, a despeito do mau gosto das cenas, não lhes determinaria a exclusão do Youtube, porque são legítimas “manifestações de livre expressão de opinião”, sem descuidar de que “As manifestações religiosas afro-brasileiras não se constituem em religiões”, conforme a sua análise teológica de urgência.

Não o são, prossegue o juiz, pois “não contêm os traços necessários de uma religião a saber, um texto base (corão, bíblia etc) ausência de estrutura hierárquica e ausência de um Deus a ser venerado” (sic!). Eu, criatura ignorante de relinchar e distribuir coices ao vento, nascida no sertão de Mossoró, no bucólico e simpático Rabo da Gata, desconhecia a existência de uma definição jurídica para o termo “religião”.

Na doutrina do Aurélio, louvado pai de gente da minha laia, a laia dos burros, insignificante, porém, na jurisdição federal, religião é a “crença na existência de uma força ou forças sobrenaturais, considerada(s) como criadora(s) do universo, e que como tal deve(m) ser adorada(a) e obedecida(s)”; ou “Qualquer filiação a um sistema específico de pensamento ou crença que envolva uma posição filosófica, ética, metafísica”. E daí?

Daí, que a concepção do juiz e a realidade semântica que ele se propôs a decifrar nas primeiras linhas do julgado estão desvinculadas. Ao excluir umbanda e candomblé do universo das religiões, o magistrado, a exemplo das pessoas que zombam de quem foi ou é candomblecista e marginalizam a capoeira, revela a mancha branca quase sempre invisível que despreza a herança africana de um povo miscigenado.

A origem da intolerância religiosa é cultural e, em verdade, afeta o mundo. Tenho, contudo, direito de escolher. Tenho direito de ser católico, evangélico, budista, umbandista, candomblecista, muçulmano, hinduísta, testemunha de Jeová, adventista do primeiro ao sétimo dia. Tenho direito de ser agnóstico ou de ser ateu, graças a deus. Só não tenho direito de ofender quem busca respostas por rumos diferentes dos meus.

segunda-feira, 12 de maio de 2014


OS SEGUNDOS

Jamais lhe prometi a eternidade,
Muito menos o resto desta vida.
Minha alma que há tanto anda perdida,
Não dou, pois nunca a tive de verdade.

Também não sei fazer a primavera,
Apenas uma flor neste caderno
Onde rego o jardim da longa espera
Por um dia de sol no meu inverno.

Prometo as tempestades dos orgasmos
Loucura inquietação beijos espasmos
Desejo paixão febre ribanceira.

Prometo alguns minutos, vez em quando,
Segundos que, se a gente for juntando,
De repente, dão uma noite inteira.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

ESPIRAL DO SILÊNCIO

Alguém chamada Sheherazade conta naturalmente com as mil e uma noites de minha admiração, ainda mais se é Rachel, tão linda quanto inteligente, mulher fêmea, sim, senhor, da Paraíba de meus ancestrais. Para completar, jornalista competente, corajosa o bastante para desafinar o coro dos contentes e reagir à ditadura do politicamente correto.

Afeito a paixões platônicas, acompanho-a desde antes da fama. Creio que desde quando a vi na TV pela primeira vez, enquanto eu e o poeta Caio César Muniz almoçávamos próximo à lagoa do Parque Sólon de Lucena, cartão-postal da capital paraibana. Que moça deslumbrante! E olhe que já chegou aos 40, segundo a revista Veja.

Nem sempre concordo com seus pontos de vista, mas não entendo os motivos e reprovo os meios daqueles que desejam silenciá-la por meio de agressões verbais, ameaças e perseguições. Os ataques sofridos por meu ídolo – lembrando que ídolo é substantivo de um só gênero, o masculino – afrontam os valores democráticos e apequenam o debate.

A propósito, Sheherazade estava radiante ao discursar na Câmara Municipal de João Pessoa, que a homenageou recentemente. Assisti à solenidade via Internet e, tirando o “Voltaire” pronunciado conforme a escrita, saiu-se muito bem no improviso, além de certeira ao registrar o silêncio dos defensores das liberdades individuais ante a tentativa de censurá-la.

Anotei alguns trechos: “Não é cômodo incomodar... minorias muito raivosas... poderosos que querem me calar, que querem usurpar de mim o direito constitucional de falar, de expressar o que eu sinto, o que eu acho, o que eu vejo, o que me incomoda. O dia que eu não pude falar... é o dia em que a mordaça venceu mais uma vez a liberdade de expressão”.

Troço complicado, a tal liberdade de expressão. Em Mossoró, a gente trabalha assustado, medindo a palavra com régua e compasso, pois notícia desfavorável, mesmo no campo institucional, rende processo e reprimendas econômicas, sem mencionar os prejuízos oriundos de famigerados “direitos de agressão” travestidos de “direitos de resposta”.

Tem características peculiares, que o diferencia de qualquer coisa do gênero, no mundo, a modalidade de “direito de resposta” gestada no ventre da Terra da Liberdade, onde a perseguição a órgãos e profissionais da comunicação que não mostram os fundos das calças aos inquilinos do Palácio da Resistência é pública, notória, desavergonhada e impune.

Enquanto a lógica jurídica e a boa técnica jornalística orientam no sentido de que o cidadão atingido por notícia ou opinião veiculada pela mídia apresente sua versão dos fatos, a qual se deve dar espaço igual ao da suposta ofensa, aqui se tenta obrigar jornal, rádio, TV, blog e o escambau a divulgar como se fossem suas as opiniões dos outros.

Há alguns meses, foi imposta ao O Mossoroense, mediante decisões judiciais liminares, a publicação de textos escritos e editados por terceiros, que, além de dissociadas dos assuntos abordados nas matérias “respondidas”, tentavam colocar palavras absurdas em nossas “bocas”. Coisas do tipo, “o jornal O Mossoroense reconhece...”.

Nunca houve nas citadas manifestações, interesse de esclarecer a opinião pública sobre algo. O objetivo era e continua a ser, a um só tempo, agredir, distorcer, manipular, desmoralizar repórteres e editores, manobra essa que, registra-se por dever de honestidade e reconhecimento, foi percebida e rechaçada por juízes experientes e de bom senso.

Parodiando François Andriex, no conto “O Moleiro de Sans-Souci”, ainda há juízes em Berlim! Do contrário, melhor seria largar a pena e se acomodar entre aqueles três macacos japoneses, o “não vejo”, o “não falo” e o “não ouço”, batendo continência para os que preferem o conforto da espiral do silêncio, na cidade onde até o Judiciário apresenta sua versão Luís XIV.

Nada estranho, sabendo-se que, por estas bandas, instituições emblemáticas a exemplo do Sindicato dos Jornalistas e da Ordem dos Advogados têm baixa tolerância a opiniões negativas, como no episódio envolvendo membros da OAB e o jornalista Bruno Barreto, bombardeado nas redes sociais por criticar, em quatro linhas, de um pedido da instituição ao TRE.

Discordo da opinião do jornalista, como natural e constantemente discordam de mim na redação que dirijo, e expliquei-lhe os motivos. Bruno não se convenceu e contra-argumentou convicto. Debatemos sem ofensas e sem perder as estribeiras, pois encaramos as liberdades de pensamento e de expressão com naturalidade, respeito, amadurecimento.

É simples defender a voz daqueles que comungam dos nossos pontos de vista. Difícil é encontrar quem se mantenha fiel a esse propósito quando o discurso alheio incomoda, constatação que remete a Noam Chomsky, linguista francês, criador da gramática ge(ne)rativa transformacional, gênio da raça, como diria o saudoso mestre Vingt-un Rosado.

Chomsky sofreu o diabo, foi tachado de antissemita e banido de vários ciclos da intelectualidade, porque, embora discordando do conteúdo, teve a ousadia de publicar um artigo em prol do direito de um sujeito chamado Robert Faurisson, professor de literatura da universidade de Lyon, falar sobre a teoria de que o Holocausto nunca aconteceu.

O linguista, que rotulava o Holocausto de “a mais fantástica irrupção de insanidade coletiva na história da humanidade”, não advogou em prol das ideias, e sim pelo direito de o adversário ideológico expressar-se. Ao fim e ao cabo, Faurisson acabou condenado pela absurda acusação de “negar a história oficial”, enquanto Chomsky amargou a execração pública.

Apesar de tudo, a reação do linguista foi equilibrada e definitiva: “a liberdade de expressão (incluindo a liberdade acadêmica) não deve ser restrita a visões que alguém aprova, e que é precisamente no caso de visões que são quase universalmente desprezadas e condenadas é que esse direito deve ser mais vigorosamente defendido”.

Por isso, estou com Sheherazade até na Pérsia, na frente de Shariar, e não abro nem por cem e uma cocada. Embora reconheça que na era do satélite o grito de um sertanejo dos cafundós não sirva de escudo para seu ninguém, grito mesmo assim, porque a ameaça à liberdade de um indivíduo, jornalista ou não, atinge a liberdade de todos nós.