sexta-feira, 29 de abril de 2011

Príncipe Plebeu



Recebi faz ano e pouco, sem precisar dia, pois a dedicatória registra apenas “março de 2010”. Foi ali, sob os auspícios de São Johnny Walker, na abadia do Bistrô Lyon, que Laélio Ferreira e Isaura Rosado me entregaram o Príncipe Plebeu – uma biografia do poeta Othoniel Menezes, da lavra do escritor Claudio Galvão.

Não o li de imediato, impedido pelas turbulências dos últimos meses, mas o fiz de uma só vez, e sem favores, por admiração tanto ao biografado, um dos maiores vates da história do Rio Grande do Norte, quanto ao seu filho, Laélio, poeta fescenino da melhor estirpe, polemista inflamado, inspirado, quase meu primo.

O estilo de Claudio Galvão dispensa comentários, bem como sua capacidade em garimpar a memória dos acontecimentos. Suas fontes principais, Francisco Menezes de Melo, irmão de Othoniel, e dona Maria do Carmo Bonfim de Melo, a primeira esposa, parecem conversar conosco nas linhas e entrelinhas do texto.

O nobre “Príncipe Plebeu” recita a “Serenata do Pescador” nos intervalos da prosa, nessa mesma atmosfera polifônica. Ode à “Praieira dos meus amores”, plebeia imaginária coroada em versos, Penélope do estuário do Potengi, muito mais tesuda que a deslumbrante Kate Middleton, duquesa de Cambridge. Evoé!

Quanto ao prefácio de Laélio, emocionante. Foi inevitável chorar, ainda por cima naquele alpendre de Melancias, no balanço da rede ao sabor do vento da “Canoa Veloz”, tendo por trás do livro aberto em minha mãos, o vulto da Serra do Mel estabelecendo no horizonte os limites entre o azul do céu e o verde do mar.

Senta o ripa nos “poetas medíocres”, “de pé-quebrado”, nos “mais emproados” que declamam “babaquices” numa “porra-louquice total”. Bate ainda no Poema Processo, nos “cordelistas de bancada” e nos “esfumaçados vates performáticos”. Sem esse breve parêntese no lirismo, convenhamos, não seria Laélio.

O trabalho de Claudio, publicado pela Fapern com o selo da Coleção Mossoroense, visita a árvore genealógica e a infância do menino que aprendera com a mãe “o pendor artístico, a capacidade de sentir, comungar a beleza”. Os recitais em casa, as primeiras letras, terra fértil para um Sertão de espinho e flor.

Há outras personagens importantes, a exemplo do aviador João Menezes, do modernista Jorge Fernandes e da poetisa mossoroense Helen Ingersoll, que em 1947 escreveu: “Amar.../ Mas não amar a um só homem./ Que o coração do homem é inflexível” e a quem Dorian Jorge Freire dedicou crônica memorável.

Vitórias, desgraças, pioneirismo, política, traições, academia de letras. O fescenino revelado por Celso da Silveira – que saudade de você, meu amigo. A alma do príncipe sem metais visto por Olegário Mariano como “o maior entre todos os do norte do Brasil” e a quem, no estilo de Laélio, saúdo com um Saravá!