sábado, 17 de janeiro de 2009

Nem que a vaca dance


Hoje não escrevo nem que a vaca dance o maxixe e o cavalo relinche o Hino Nacional. Amanheci barbudo, cheio de olheiras, sem a menor inspiração e com aquela preguiça medonha capaz de aprisionar o juízo do sujeito no travesseiro, mesmo o corpo marcando presença em algum lugar, a exemplo de agora, eu aqui, na redação do O Mossoroense, ouvindo as aventuras de Luciano Maia e de Bruno Barreto.

Herói dos sertões do Piauí, Maia trocou o mormaço de Teresina pelo clima europeu do País de Mossoró, deixando na saudade as moças da Elias Martins. O cabra é bom repórter policial e estuda para ser advogado. Deu-se tão bem no jornal, que parece trabalhar nele há 136 anos, desde a época de Jeremias da Rocha, com quem, segundo dizem, costumava degustar iguarias denominadas quartos secos de bode.

O velho Bruno Barreto chegou menino, logo após ser aprovado no vestibular para o curso de Comunicação Social da Uern. Inscreveu-se entre os melhores editores de política do Estado por esforço próprio, sem favor de ninguém. Na última campanha, sofreu ataques injustos de um grupo que tentou, sem sucesso, abalar sua credibilidade. Aguentou firme a saraivada de mentiras e se saiu fortalecido da história.

Estamos de plantão, os três “musquiteiros”, num sábado patético e sem emoções, a não serem “as perspectivas do domingo”, consagradas nos versos de Vinicius, e as lembranças do último capítulo de “A favorita”, que paralisou a nossa redação ontem à noite, com direito a declarações de amor tanto a Flora quanto a Donatela. Patrícia Pillar – com todo respeito a Ciro – é linda até no papel de rainha das vilãs.

Bruno com saudade da namorada, futura zootecnista, e se queixando do irmão que o acordou de madrugada, pedindo carona para o trabalho. Maia, faminto às 10 horas, só fala em comer tatu na casa de Zé Blebleu, o chefe de segurança da Rede Resistência. E eu, cansado, desejando a rede armada no alpendre da Rua dos Bobos, nº 0, onde, quem sabe, sonharei conferindo o bilhete premiado da Mega Sena.



sábado, 10 de janeiro de 2009

Atleta tampax

Destemido, subi ao tabuleiro da balança. Os olhos vermelhos da máquina reviraram-se nas próprias órbitas por instantes até repousarem, sarcásticos, o primeiro sobre o oito e o segundo sobre o zero. Minha nossa, 80 quilos cravados, 10 acima do ideal para minha estatura mediana, sobrepeso incômodo para quem, desde jovem, sofre de hipertensão arterial e suporta severas crises de artrite.

Na semana seguinte, depois de esmiuçar a bateria de exames, de conferir o meu peso e de esticar a fita métrica para medir-me a circunferência abdominal, a médica prescreveu, sem dó nem piedade, duas coisas aterrorizantes: dieta e exercícios. Pela dieta, nem tanto, mas atividade física, para um sedentário convicto e militante, é algo pior que a peleja de mestre Alfredo com a besta-fera.

Engraçado. Eu gostava de praticar esportes. Treinei basquete no Santa Luzia, embora fosse o baixinho da turma e passasse a maior parte do tempo no banco de reservas do time de Gilson. Depois, lá mesmo no Colégio dos Padres, integrei a equipe de atletismo coordenada por Tananam, conquistando o honroso quinto lugar em arremesso de peso numa prova disputada por cinco atletas.

Realizei a façanha de me tornar medalhista no handebol sem ao menos pisar na quadra. Ou melhor, sem sequer assistir ao jogo. Digo, sem saber nem onde diabos se realizou a tal partida. Emprestei meu nome, atendendo ao apelo de alguém, para complementação da equipe: o famoso atleta tampax. Dei sorte, fazendo jus à medalha que me foi entregue dias depois, pelo técnico da equipe.

Dono da bola de futebol, emprestava-a sem problemas, desde que não fosse convidado a jogar. No surfe, enquanto a galera arrepiava nas manobras, eu permanecia sentado na prancha, para lá das ondas, conversando miolo de pote até a hora em que as moças se aglomeravam na praia. Bastava-me que elas me vissem com a potente quadriquilha embaixo do braço. Nunca me enxergaram.

Experimentei o caratê. Cada vez que os caras gritavam “Kiaaaiiii”, eu ria tanto que acanalhava o treino. Joguei capoeira e quase acabei preso junto aos colegas do grupo Abadá. O delegado não admitia “vagabundagem” em praça pública. No judô, venci uma luta após cinco anos, quando o oponente errou o golpe e me derrubou sentado na barriga dele, que desmaiou. Imagine o desespero!

Por último, tentando seguir as orientações clínicas, visitei academias e descobri, no olho, que puxar ferro é o ó do borogodó. “Que tal pedalar? Pedalar ao ar livre...”, alguém sugeriu. Beleza, comprei logo uma bicicleta no Vuco-Vuco. Só falta agora cair na rua. Espere! E se me enquadrarem nas estatísticas funerárias do trânsito caótico de Mossoró? Pensando bem, eu nem estou tão gordo.

sábado, 3 de janeiro de 2009

À de azul


Não mais do que olhar esses teus peitos,
O desejo permite por agora.
Depois, voltar a vê-los - são perfeitos!
Quero tê-los nos lábios sem demora.

 
A boca, a nuca, os lábios: meus eleitos.
Mentira! Quero os teus seios de fora.
Se der, as tuas coxas: muitos leitos...
E essa flor que de longe me devora.

Teu azul, em decote de arremedos,
Não te guarda do avanço dos meus dedos,
Tampouco há de guardar-me os segredos.

E assim, pra que eu não chegue e te revele,
Que a tua língua à minha se anele,
Olhe em meus olhos, sinta a minha pele.

(Antoniel Campos e Cid Augusto - Parnamirim - 18.5.2005)