segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

ASSÚ É BOM, EU POSSO AFIRMAR!

Testemunhei certa vez, logo que me transferi para morar um tempo em Natal, no fim da década de 1990, início dos anos 2000, o debate acalorado entre os poetas Pedro Grilo Neto e Celso da Silveira, ambos meus amigos queridos, sobre a grafia de “Assu”, na visão deste; e de “Açu”, na perspectiva daquele. 

Grilo continua lúcido, ostentando seu elegante sombreiro mexicano, produzindo e esbanjando poesia aos 85 anos de idade. Dia desses, passando pela escadaria de Mãe Luiza, desejei subir até a rua Guanabara para abraçá-lo. Recuei, entretanto, para não o colocar em risco. Tempos de pandemia.

Celso morreu em 2005, no comecinho de janeiro, período no qual deixava sua residência, na Alexandrino de Alencar, e tomava o rumo de Tibau, o “de Mossoró” ou “do Norte”, como dizem para distinguir de Tibau do Sul. A casa de veraneio ficava no Centro e tinha uma piscina que mal o cabia dentro.

Voltando ao diálogo dos vates, Pedro Grilo defendia a grafia Açu, a exemplo de muita gente boa e devota da Irmã Lindalva, centrado em fatores gramaticais. Celso da Silveira, assuense – ou açuense – da gema, recorria à lei de criação do município, carinhosamente emoldurada e pregada na parede.


Pedro Grilo Neto (Fonte: Facebook)


Deífilo Gurgel e Celso da Silveira (Foto: Alex Gurgel)

Detalhe interessante: nos seus livros, Celso grafa Assu, com dois esses, sem acento agudo na letra “u”, enquanto a Lei nº 24, de 16 de outubro de 1845, a da parede, eleva “à categoria de Cidade a Vila Nova de Princeza, com a denominação de Cidade do Assú”, redigido desse jeito, com “ú” acentuado.

Fórmula idêntica pode ser observada na Lei nº 13, de 11 de março de 1835, aprovada pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte e sancionada pelo presidente da província, o pernambucano Basilio Quaresma Torreão. Por meio dela, criou-se a “Comarca do Assú” há quase 187 anos.




Já a Lei Orgânica Municipal, promulgada aos 30 de março de 1990, no rasto da Constituição Federal de 1988, tentou oficializar Assu, por meio de emenda proposta por Domicito Soares Filgueira, presidente da Câmara de Vereadores, seguindo a sugestão de ninguém menos que Celso da Silveira. 

O debate me remete à teoria de um antigo colega de trabalho, dos bons tempos do jornal O Mossoroense. O rapaz afirmava ter aprendido na aula de Português que a aposição de acento circunflexo em Antônio dependeria da idade do sujeito. Abaixo dos 30 anos seria Antonio e, depois disso, Antônio.

Brincadeiras à parte, a polêmica pode ser fruto do acordo ortográfico celebrado entre a Academia Brasileira de Letras e a Academia de Ciências de Lisboa, em 1931. Levanto a hipótese porque tal deliberação também suscitou questionamentos sobre Mossoró com “ss” ou Moçoró “simplificado” com “ç”.

Talvez remonte há um pouco antes, 1911, ano em que a Academia de Ciências de Lisboa fez a primeira reforma ortográfica da língua portuguesa visando normalizar o idioma. Apesar de unilateral, o documento serviu de base para todas as convenções do gênero que se seguiram na comunidade lusófona.

“Como regra geral”, diz a proposta portuguesa, “ce, ci, -ç- correspondem a ce, ci, ti latinos, a ce, ci, za, zo, zu do castelhano actual, a ss arábicos, ou pertencem a vocábulos de origem americana indígena, transcritos pelos autores peninsulares”, formalismo reconhecido e utilizado até a atualidade.

Sem querer me alongar nesse aspecto, parece de bom alvitre esclarecer que o acordo ortográfico de 1931 – com perdão do trocadilho – resultou em desacordo, considerando que Portugal em 1940 e Brasil em 1943 tiraram dele interpretações divergentes que só vieram a ser unificadas em 1945.

Segundo as regras de padronização e simplificação estabelecidas pelo acordo de 1931, consolidado para nós no formulário ortográfico de 1943, realmente teríamos de escrever Moçoró, como chegaram a fazer expoentes do jornalismo e da cultura norte-rio-grandenses, nas décadas de 1960 e 1970.

Situação intrigante envolve o título de um conto do poeta Carlos Drummond de Andrade, que aparece como “Lavadeiras de Mossoró” na edição de 17 de julho de 1979, do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro; e se transforma em “Lavadeiras de Moçoró” no livro Contos Plausíveis, datado de 1981.


O poeta Carlos Drummond de Andrade publicou o conto as “Lavadeiras de Moçoró” na edição de 17 de julho de 1979 do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro. O texto foi reproduzido no livro Contos Plausíveis, de 1981, em que aparece também o “Lavadeiras de Moçoró – II”.


Ocorre que, segundo a versão tupiniquim, “topônimos de tradição histórica secular não sofrem alteração alguma na sua grafia, quando já esteja consagrada pelo consenso diuturno dos brasileiros”. O termo “secular”, por sinal, não remete a período de 100 anos, e sim a coisa bastante antiga. 

Desse modo, venceu Mossoró pela mesma razão do Assú. Este, dizem, após consulta do então prefeito Ronaldo Soares a Luís da Câmara Cascudo, nos anos 1980. Para o historiador oficial do Natal, a escrita correta seria aquela contida na lei de criação da cidade, por ser a certidão de nascimento do lugar.

Na falta de intimidade para perguntar a Ronaldo, e sem poder sair de casa por estar com covid-19, pedi ajuda ao jornalista, historiador e poeta Ivan Pinheiro, o Oráculo do Assú. Sem demora, ele me respondeu por WhatsApp que o alcaide submeteu de fato a dúvida a alguém, só não sabe se a Cascudo.

Indaguei ainda se havia emenda à Lei Orgânica acrescentando o acento no “ú”, posto que o texto de 1990 oficializava a escrita Assu. Na ótica de Ivan, esse dispositivo específico da legislação municipal é inválido, considerando que nomes de municípios somente assembleias legislativas podem modificar.

E tem razão. Basta lembrar o processo por meio do qual Augusto Severo voltou a ser Campo Grande. A Assembleia do RN pediu ao TRE que realizasse plebiscito e, pelo desejo de 95,75% do eleitorado local, aprovou a Lei Ordinária nº 10.501, sancionada em abril de 2019 pela governadora Fátima Bezerra.

De toda sorte, a lição atribuída a Cascudo aplica-se igualmente a nomes e sobrenomes. Os Escóssias, por exemplo, mantêm os dois esses desde o século XIX, obedientes ao registro de João da Escóssia, o primeiro de nós, assim como “Sid” ou “Cid” será definido pela grafia averbada em cartório.


Livro de minha autoria sobre a família Escóssia


Abre parêntese. Aproveito a citação a meu nome, tirada de um exemplo de Ivan Pinheiro, nas críticas aos originais deste artigo que se pretendia crônica, para dizer que, na dicção escorreita do acordo de 1945, “o d é sempre pronunciado” no “antropónimo Cid”. Chique, não? Fecha o parêntese. 

Em Mossoró não se fez tanto barulho a favor do “ç”, apesar do registro da Wikipedia de que que, pelas “atuais regras de ortografia da língua portuguesa, a grafia correta é Moçoró, pois prescreve-se o uso da letra ‘ç’ para palavras de origem tupi”. Na verdade, para as palavras indígenas, de modo geral.

Em Assú, a peleja continua. O município fechou questão com “ss” e acento no “ú”, a despeito de os adeptos do cê-cedilha terem apoio de outros órgãos públicos, entre os quais o poderoso Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que registra o topônimo “Açu” e indica “açuense” como gentílico. 

O Houaiss, meu dicionário predileto, a exemplo do Aulete Digital, define “açuense” como “relativo a Açu RN”. Por outro lado, ao ocupar-se da etimologia, esclarece haver anotações da forma histórica “assuense” desde o longínquo 1845, ao passo que o primeiro registro de “açuense” só aparece em 1948.

Há quem diga não se tratar de mero capricho linguístico, e sim de respeitar a melhor tradição, uma vez que, antes mesmo da Vila Nova da Princesa, o lugar era chamado pelos índios, seus primeiros habitantes, de “taba-açu”, que muitos se aventuram a traduzir, com amparo no tupi, como “aldeia grande”.


Dicionário Houaiss


Vejo com descrença qualquer esforço de tradução dos topônimos do sertão do RN com base nas línguas dos troncos tupi e guarani, inerentes a indígenas do litoral, porque aqui viviam tribos tapuias. O verbete “tapuia”, a propósito, é tupi e era usado por seus falantes para se referir a “índios bárbaros”.

Também não tenho certeza se os ditos “autores peninsulares” referidos nas normas traçadas para o português de Portugal em 1910, a maioria com atuação no século XVII, grafavam “taba-açu”, “taba-assú”, “taba-assu”, e se tinham por base o tupi, porquanto “língua geral”, ou algum idioma exclusivo. 

O fato é que as várias práticas linguageiras dos povos do interior, com repertório, gramática e fonologia próprios, não foram preservados. Conforme o mestre Olavo de Medeiros Filho, apenas alguns lexemas foram catalogados, de modo esparso. Mossoró e Assú, infelizmente, não integram esse rol.

A título de curiosidade, ainda de acordo com Olavo, nosso maior historiador na concepção do professor Vingt-un Rosado, “o acampamento principal do rei Janduí ficava localizado no rio Otschunogh (Açu), cujo vale recebia o nome de Kuniangeya”. A lagoa do Piató, por sua vez, era chamada Bayatagh.

Não devia tomar partido, mas, com as licenças de Grilo e de Celso, fico com Assú, pela “certidão de nascimento”. E o faço sem remorso, pois, com “ç” ou “ss”, com ou sem acento no “u”, Sinhazinha tem razão: “Assú é bom, eu posso afirmar!”. E viva a Terra dos Poetas!... Epa, não seria a Terra da Poesia?






domingo, 23 de janeiro de 2022

O SABIÁ

Sabiá da Costa é um talentoso percussionista mossoroense, lá do Rabo da Gata, que vive há anos na Alemanha.

Sempre em dezembro, pousa por aqui para participar dos festejos de Santa Luzia. No dia 13, vai à procissão da padroeira tangendo o cortejo de meninos e meninas aos quais ensina carinhosamente sua arte, como forma de inclusão social.

Certa vez, sabedor de que estava por Mossoró, fui abraçá-lo. Sai da casa dele maravilhado com os sons, os ritmos, as sensações, as imagens, e escrevi um poeminha em homenagem ao velho amigo, retratando nosso reencontro.


O SABIÁ

vi o Sabiá

da Costa

do Mar

do Norte

pousar no Rabo da Gata

um trem

de tambores

de apitos

de caxixis

reger baobás

no meio

do mundo

tanger os moleques

pra Santa Luzia

plantar vendavais

na Praça “Pedão”

colher oceanos

em ondas gigantes

do chão sertanejo

do velho quintal

de dona Teresinha.


De repente, logo depois da publicação no Facebook, entrou em cena outro grande músico, Geová Costa, que deu melodia àquelas letrinhas acanhadas.

Já estava bastante satisfeito com o resultado, mas, há pouco, recebi de Geová um vídeo em que ele e Sabiá tocam e cantam juntos os ditos versos. 

Agora, além de feliz, estou emocionado e divido com você este momento.




domingo, 16 de janeiro de 2022

UMA CACHAÇA NO INFERNO


O professor José Ricardo da Silveira esteve sexta-feira no meu escritório. Papo vai, papo vem, lembramos de Raimundo Nonato da Silva, talvez o maior escritor do nosso Estado. Nonato nasceu em Martins, mudou-se para Mossoró ainda menino, na condição de retirante da seca, e viveu muitos anos no Rio de Janeiro, mas sem nunca perder o liame telúrico com o sertão potiguar.

Vinha habitualmente à Terra de Santa Luzia para os festejos do 30 de Setembro, em homenagem à libertação dos escravos cinco anos antes da Lei Áurea, resultante dos eventos de 1873. A redação do O Mossoroense era pouso obrigatório, sempre na companhia do mestre Raimundo Soares de Brito. Os dois foram colaboradores do secular jornal de Jeremias da Rocha Nogueira.

Guardo com carinho o retrato em preto e branco feito pelo amigo Luciano Lellys, no qual aparecemos os três no sofá da sala da editoria. Da esquerda para a direita, Raibrito, Nonato e eu, que ainda usava barbicha, um bigodinho cafona e óculos de psicopata americano. Quanto às roupas, continuo a me vestir do mesmíssimo jeito, de calças jeans, camiseta sem detalhes e tênis.



No dia da foto, conversamos a manhã toda. Pouco antes das 12h00min, saímos a pé, atravessamos o beco da casa de Seu Elizeu, pai de Emery Costa, ali por trás da agência central dos Correios; contornamos a Praça Vigário Antônio Joaquim pela calçada da Livraria Independência, da Rádio Rural, da Banca de Zé Maria, do Oitão, e fomos tomar umas depois do adro da Catedral.

Esqueci o nome do quiosque, um trailer, na verdade, estacionado na Praça Dix-sept Rosado, sem mesas ou cadeiras, exceto os bancos altos juntos ao balcão. Jamais esquecerei, entretanto, do suor frio descendo pelas costas, do pescoço ao mucumbu, em resposta imediata ao copo de pinga entornado goela abaixo, em pé, com o sol do Centro de Mossoró dando de paulada na moleira.

Desconheço a razão de Mário Cesariny haver traduzido como Uma cerveja no inferno, o título do livro Une saison en enfer, de Arthur Rimbaud, visto que saison, ao pé da letra, seria temporada. Aliás, se não divago na memória, li certa vez que a expressão remeteria ao modo de servir cerveja em Charleville, cidade natal do poeta francês que comercializava café e traficava armas de fogo.

Fosse Uma cachaça no inferno, diria que o tradutor lusitano andou bebendo aguardente por aqui, no mesmo lugar e nas mesmas condições climáticas que enfrentei lá pelo final da década de 1980. Depois daquilo, passei a me furtar de aventuras etílicas matinais ou vespertinas e me apaixonei pela noite, que me embriaga sem pressa, com a ternura das estrelas.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

JORNALISMO "PEI BUFO"


Às vezes penso que o desejo de escrever “já se apagou em mim”, como “a luz do cabaré” no Tango pra Tereza, de Evaldo Gouveia e Jair Amorim. Nada do que lembro, vejo ou sinto parece caber nas palavras, que talvez tenham se esgotado quando me perdi do jornalismo e caí no silêncio engravatado de um escritório. Sinto falta do frenesi das redações, do barulho das pessoas e das máquinas, do cheiro único de quando a tinta sangrava da impressora sobre o papel e o engravidava de ideias.

Por outro lado, não me enxergo no jornalismo “pei bufo” das redes sociais. Sinal de velhice, talvez, afinal nasci no século XX, sou membro da Geração X, além de, aos 50 anos, haver me tornado cringe – vergonhoso, para os “Z” e os “millenials” – por gostar de café, sexo, drogas lícitas e Rock and Roll. Para completar, estou 15 quilos mais gordo, motivo pelo qual, por maior que seja a ginástica semântica, os atuais contornos dessas mídias não me abarcariam a cinturinha sem fustigar a consciência.

Tirando honrosas e felizes exceções, a notícia ganhou a proporção de um pires de lágrimas, mas com profundidade suficiente para afogar a verdade, que agora é espancada, espezinhada, violentada, quando não assassinada a sangue frio e sua morte repercutida com alarde, ene vezes, com especulações tanto sacanas quanto escrotas. A velocidade e a extensão disso, só sente quem sofre a danação eterna. É o fogo do inferno queimando a honra, a alma e os ossos de culpados e inocentes.


Imagem gratuita do Pixabay









Imagem gratuita fornecida pelo Pixabay


Imagine abrir o celular após longa noite de sono e se deparar com o relato da própria morte estampada em perfis de redes sociais e blogs. Mesmo dormindo, as informações dão conta de que você integrava gangue de perigosos ladrões de banco cujos integrantes sucumbiram em confronto com a polícia há poucas horas, a quilômetros de distância de sua cama. Seu papel na associação criminosa era o de “explosivista”, embora não tenha destreza sequer para soltar chumbinho no São João.

Para piorar, vem a descoberta de que vários incautos repostaram a barrigada sem o menor senso de responsabilidade – barrigada, registra-se, significa erro grosseiro na linguagem jornalística do século anterior –. A fake news deu cria, ganhou o mundo. A partir de agora, o tempo todo, você precisará provar duas coisas a conhecidos e estranhos: que não é criminoso e que o interlocutor, confuso, não está de conversê com a alma penada do cabra defuntado no bala-vai-bala-vem com forças estatais.

Fico logo enjoado. Sorte que Lázaro Amaro arrastou o violão antes de eu começar a dizer como mentiras midiatizadas podem literalmente matar. Ouço o dedilhado de “Zará Tempo”, samba que vem por aí; e a onomatopeia do uísque meando a caneca. Lázaro e eu fazemos uns troços juntos na poesia, na música, na boêmia. Temos ainda o privilégio de defender o bom jornalismo advogando para profissionais éticos que buscam a realidade e fazem da crítica uma arte. E assim, a luta continua.


 

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

JARARACA


No sertão, quando os céus não choram chuvas

E o vento espalha o pó dos boqueirões,

Chovem balas e brotam Lampiões

Dos túmulos dos olhos das viúvas.

 

Há sujeito que é gente e é serpente,

Matador diabólico, infernal,

Que despacha culpado ou inocente

No veneno do brilho do punhal.

 

Jararaca rebenta as terras mortas

Por veredas um tanto quanto tortas

No seu rastro de sangue, ferro e fogo.

 

Se ele morre, renasce em outro canto

Ou então vai ao céu e muda o jogo

Volta aqui, faz milagre e vira santo.

sábado, 8 de janeiro de 2022

ZARÁ TEMPO!


Antes de tudo e bem pra lá do nada,

Quando sequer no mundo havia gente,

O tempo já regia, onipresente,

A evolução da orquestra alucinada.

 

Maestro de tambores e destinos,

Dos raios, dos trovões, dos evangelhos;

No seu passo, meninos nascem velhos

E velhos, de repente, são meninos.

 

Rei dos ventos, senhor das estações,

Criador de alegrias e aflições,

Que tanto fere quanto regenera.

 

Zará Tempo! arquiteto de universos,

Rogo a ti um senão de primavera

Para florir o outono dos meus versos.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

SEM MEIOS-TERMOS


Meu sonho é ler você sem meios-termos,

Captar seus pensamentos cabeludos,

Colher com dedos longos e desnudos

O arrepio escondido em versos ermos.

 

Se deixar, falo! Roubo-lhe as ideias,

Marco páginas, grifo as entrelinhas

Que nos levam a mares, odisseias,

A ninfas tanto putas quanto minhas.

 

Quero também beber daquelas prosas,

Feitiços de palavras e sentidos,

Metáforas devassas, sinuosas.

 

E na literatura dos seus “ais”,

Misturar rimas pobres com gemidos

Seduzindo canções nos vendavais.