Congresso Mundial de Jornalistas,
Centro de Convenções de Olinda-PE, maio de 1998. Representantes de 112 países
reunidos para discutir desafios tecnológicos, futuro das comunicações,
liberdade de expressão. E lá estava Ariano Suassuna, com sua famosa aula
espetáculo, destacando-se entre palestrantes de renome internacional.
Sou fã avesso à tietagem, de modo
que pensei muito antes entregar ao ídolo a cópia de “Síntese Histórica de O
Mossoroense”, livreto de meia pataca que cometi na adolescência. Para minha
surpresa, ele disse conhecer o jornal, que estivera inclusive em sua sede e
“furtara” uma xilogravura utilizada como peso de porta logo na entrada da
empresa.
Para quem não sabe, xilogravura é
a matriz para imprimir, geralmente em papel ou tecido, imagens talhadas em
pedaços de madeira. No Brasil, com exceção dos poucos cultores da “gravura de
arte”, o método sobrevive no talento dos gravadores populares, a exemplo do
poeta Antônio Francisco, que o utilizam para ilustrar capas de cordel.
A peça que Ariano salvou sem
saber, pois grande parte se perdeu na enchente de 1985, é de autoria de João da
Escóssia Nogueira, meu trisavô, que introduziu a técnica no Rio Grande do Norte
a fim de ilustrar textos e propagandas veiculados nos jornais O Echo (lê-se
eco) e O Mossoroense, aquele em 1901 e este de 1902 a 1905.
Tempos depois, o homem do Alto da
Compadecida e da Farsa da Boa Preguiça chegou a Natal para lançar outra obra.
Antônio Rosado Maia, primo querido de saudosa memória, telefonou-me da capital
do Oeste pedindo que lhe comprasse um exemplar devidamente autografado, missão
da qual tentei me desincumbir, com medo da fila gigantesca.
Fujo de filas como dizem que o
tinhoso foge da cruz, mas segui em homenagem a Toinho. Ao ler nossos nomes
naqueles papeizinhos criados para facilitar a vida dos escritores em noites de
autógrafo, o autor perguntou: “Você é Cid Augusto ou Antônio Rosado Maia?”. Esclareci
as identidades, sem imaginar, contudo, o motivo da indagação.
Após ouvir-me, lançou novo questionamento
e explicou: “Vocês são o que de Tércio Rosado?... Doutor Tércio foi meu
professor na faculdade de direito”. Tércio, irmão de Dix-sept, Dix-neuf, Dix-huit,
Vingt e Vingt-un, pioneiro do cooperativismo, morou no Recife, onde vivia como docente
e livreiro, embora formado em farmácia, direito e odontologia.
Pois é, Ariano Vilar Suassuna,
gênio armorial da literatura que a morte, a “moça caetana”, resolveu abraçar
aos 87 anos, censurando o livro inédito que preparava há duas décadas, possuía
uma xilogravura de João da Escóssia e foi aluno de Tércio Rosado, cabras de
Mossoró que a cidade não conhece além dos logradouros batizados com seus nomes.