Estou com sérias dúvidas desde o último
dia 21: o mundo não se acabou ou morremos e passamos a habitar o limbo numa espécie
de realidade paralela, enquanto o criador decide como dar vencimento às almas
de tantas criaturas.
Essas coisas levam tempo, compreendo,
muito mais do que a apreciação dos recursos internos do Supremo Tribunal
Federal (STF), pois os anjos encarregados da triagem devem apreciar caso a caso
para evitar injustiças e julgamentos politiqueiros.
Além do trabalho em si, a “sopesagem”
dos pecados e bem-aventuranças de acordo com a realidade socioeconômica,
religiosa e cultural dos indivíduos, haverá de ser feita a ampliação das instalações
celestiais e, sobretudo, as do inferno, significando que a incerteza dos
seiscentos papa-figos persistirá pelo menos até o final das obras da Copa do
Mundo de 2014.
Sugeriram-me uma sessão espírita,
no que cheguei a pedir ajuda ao repórter fotográfico Luciano Lellys, guru
espiritual da redação do O Mossoroense, exorcista, domador de almas sebosas e desfazedor
de mandinga, mas desisti antes de chegarmos ao terreiro de Pai Akã da Jurema
Grossa. Já pensou se eu baixo em alguém?
Oh, Céus!, Oh, vida! Oh, azar. O
dilema “shakespeuruquiano” me consumirá enquanto não descobrir se este cara sou
eu ou a mera representação de mim.
Ah, fiz uma breve pesquisa entre colegas
de trabalho.
Argolante Lopes, nosso webmaster, sente-se em Matrix desde o penúltimo
fim do mundo.
Walkiria, a diagramadora, disse que
o dilema será irrelevante, afinal, se eu não entregar imediatamente esta
crônica de meia pataca, morto ou vivo, serei linchado.
Bruno Barreto, editor de política,
embora ateu militante e convicto, não descarta eventuais conjuminâncias post mortem entre a governadora e uma
quase graças a Deus ex-prefeita para que o universo seja recriado através do
Tribunal de Contas.
Márcio Costa, diante da celeuma, joga
sobre a mesa um CD de Flávio Pizada Quente, o Pizada assim mesmo, com “z”, e
manda que eu escute, por recomendação do empresário Alvanilson Carlos, a faixa
denominada O Cara do Fiat Uno, na qual repousam respostas para todas as
questões filosóficas que há séculos atormentam a humanidade.
A música começa: “Bruuunnnna!
Bruuuunnnna!” E o mundo, se ainda existia, acabou de reacabar.