Tenho 41 anos, parte desperdiçada,
parte muito bem vivida, mas, de qualquer modo, sentindo-me o Highlander, apelido conferido a Connor MacLeod, lendário guerreiro imortal
das Terras Altas escocesas.
Melhor dizendo, para fazer jus ao
meu nome, tenho por agora a sensação de encarnar o próprio El Cid, cognome de
Rodrigo Díaz de Vivar, herói castelhano que venceu uma guerra contra os mouros
depois de morto.
São as notícias do fim do mundo
que me dão essa trágica sensação de imortalidade, associadas ao fato de que
superei diversos acontecimentos dessa ordem e continuo aqui, labutando.
Agora são os Maias, ou melhor,
novamente são os Maias. Seus intérpretes já nos mataram aos 11 de novembro de
2011, causando entre outras catástrofes o cancelamento do aniversário de Caio
César Muniz, seis dias depois, no Bar Santa Luzia, referência etílico-cultural
do Beco das Frutas.
Em 1980, sobrevivi à conjunção
entre Saturno e Júpiter que destruiu o universo. Dois anos depois, aos 10 de
março, venci um cataclismo detectado por astrônomos sabe-se lá de onde.
Atravessei ainda as previsões dos
analistas de Nostradamus para agosto de 1999, dos fanáticos que promoveram um
apocalipse em festejo aos 2000 anos de Jesus Cristo e de algum desocupado desses
na virada entre o segundo e o terceiro milênio.
Somente em 2012, o mundo ferrou-se
duas vezes e aguarda a terceira, tudo por obra e graça dos Maias.
Morremos em janeiro ou fevereiro,
não me lembro bem, a partir de uma inversão de polos gerada em resposta tardia
ao tsunami da Ásia; e pelo alinhamento numérico 12.12.12. Dia 21, a humanidade
será devastada porque essa é a última data do calendário Maia e nela seremos tocaiados
por um cometa ou um planeta assassino.
Sem querer aumentar a tensão,
parece que desta vez a coisa é mais grave e o fim do mundo será mais fim do
mundo. Soube que os Estados Unidos pronunciaram-se desmentindo os boatos
fatídicos. É o mesmo governo que anunciou de pés juntos, mãos postas e olhos
rútilos a existência de armas de destruição em massa no Iraque e jura, com os
mesmos gestos, respeitar os direitos humanos em Guantánamo e Abu Ghraib.
De acordo com os cientistas da Nasa, devemos relaxar. A Terra tem prazo de
validade de uns cinco bilhões de anos, até quando o Sol devasta-la-á numa
mesóclise. Em seguida, congelar-se-á de desgosto linguístico por se sentir um reles
pronome oblíquo átono jogado entre o radical e a desinência e decretará a
própria extinção no futuro do presente ou do pretérito.
De toda sorte, inevitável sempre foi e sempre será o armagedom em suas
diversas configurações. Por isso, verificando em consulta ao calendário de
mulher pelada colado na carteira do editor Márcio Costa que a próxima hecatombe
recairá na sexta-feira, prometo antecipar o fechamento da edição do O
Mossoroense de sábado, de modo a não deixar ninguém sem jornal dia 22 em
consequência do evento.
Fica desde já registrado junto à tesouraria da empresa o pedido de
antecipação dos vales para a quinta-feira, quebrando a secular tradição das sextas,
pois sem dúvida será feriado bancário no fim do mundo e, sem dinheiro, não se
pode festejar a imortalidade.
Um comentário:
Meu caro Cid>Eu tenho 65 anos e já sobrevivi a uma dezena de fim do mundo.Moro na cidade de Barra dos Coqueiros, uma pequena ilha que fica em frente a Aracaju.Já pensou a gente aqui pegar uma onda 100metros?Não tem surfista que aguente.Agora falando serio:Se os Mais não foram capazes de prever a chegada dos espanhóis.Como poderiam prever o fim do mundo?
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