sábado, 21 de abril de 2012

As vaginas de Hazel Jones



Instigado pelo noticiário da “Folha de S.Paulo”, assisti à edição do programa britânico “This Morning”, veiculado na ITV1, no qual a inglesa Hazel Jones, loirinha de 27 anos, linda de morrer e de matar, apresenta-se como a iluminada possuidora de duas vaginas.

A galega enumera diversas vantagens, a começar pelas virgindades que perdeu em ocasiões distintas: “I lost my virginity twice”. Diz ainda que seu namorado é o único sujeito do Universo a penetrar genitálias diferentes sem o peso das traições na consciência.

Aposentado da vadiagem por tempo de serviço e contribuição, guardando, porém, pendor científico por questões do ramo, sinto-me à vontade para anotar impressões, indicar benefícios e riscos no relacionamento com uma moça dotada de tal atributo estético.

Homem para Hazel Jones deve ser bilíngue, a exemplo de Charles Phelan, amante de Melissa Hoffman, ela que, tendo somente uma, parece carregar dez pererecas. Vaginas, embora no mesmo organismo, falam idiomas diversos. E comunicação é fundamental.

Precisa ser muito divertido, carregar na mente brincadeiras da infância, tipo aquela do “Uni-duni-tê, sa-la-mê-min-guê, o sor-ve-te é co-lo-rê, a es-co-lhi-da foi... vo-cê!”. Ou “Passarás, passarás/ Mas algum há de ficar/ se não for o da frente/ tem que ser o de trás”.

]O cara tem de estar sempre disposto, naturalmente ou à base de Biotônico Fontoura com ovo de pata, leite condensado e chocolate em pó, não apenas a fim de satisfazer o conjunto da obra, mas também para enfrentar duas TPMs e as respectivas menstruações.

E aí, vai encarar? Eu não me atrevo, pois mal domino o português sertanejo e em inglês só consigo dizer “Whisky”. Além disso, nunca me saí bem nos quesitos de múltipla escolha, estou fraco que nem caldo de batata e minha mulher é valente igual a siri numa lata.



sábado, 14 de abril de 2012

Ave, Kydelmir!


Ave, Kydelmir Dantas, capitão-mor dos sertões nordestinos! Graças a esse cabra da peste, desbravador das caatingas paraibanas de Nova Floresta, mistura de Jesuíno Brilhante, o Cangaceiro Romântico, e de Corisco, o vingador de Lampião, repousa diante do meu espanto uma belíssima edição dos “Sonetos” de Florbela Espanca.

Exemplar raro impresso em 1968, no Porto, Portugal, sob os auspícios da Livraria Tavares Martins, que veio apostar em Mossoró não se sabe como, especificamente no sebo do mestre Canindé. A última pista de sua trajetória é o Rio de Janeiro daquela mesma década, mencionado na dedicatória “ao amigo Paulino”, na primeira folha.

Seria repassado a alguém desconhecido, mas o destino conspirou a favor deste que vos escreve. Bastaram os olhos de meu amigo tropeçarem nas páginas daquela “que no mundo anda perdida”, por quem “Trago em meus lábios roxos, a saudade”, que ali estava eu trocando, de bom grado, a verba dos uísques pela “Flor do Sonho”.

Há fotografias da autora, seis ao todo, em diferentes fases de sua vida tão curta quanto “O pó, o nada, o sonho dum momento”, além do retrato pintado pelo aviador Apeles Espanca, irmão e, dizem as más línguas, grande amor da mulher que revolucionou a poesia lusitana com sua vontade nua de “Amar! Amar! E não amar ninguém!”.

A certidão de batismo, extraída dos alfarrábios do Santuário da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, Matriz de Vila Viçosa, intercala as páginas 160 e 161. Antes, entre as 144 e 145, um documento interessante: a análise grafológica da poetisa, publicada na revista “Civilização”, de novembro de 1929, fazendo observações como estas:

“A graciosa harmonia deste grafismo denota... temperamento de artista... cujo idealismo, todavia, se não manifesta em tôda sua plenitude... Inteligência culta, imaginação e viva sensibilidade, aliadas a um apurado sentido estético, favorecendo, portanto, a expressão do pensamento pelas formas perfeitas e melodiosas da poesia”.

Reli os sonetos, um a um, verso a verso, e parecia a primeira vez. Sempre parece. As linhas de Florbela estimulam sensações novas a cada visita. São as curvas líricas de uma mulher ardente, desveladas em ondas inebriantes de sentidos. Depois, olhei-a até gastar os olhos da fotografia e fechei o livro dos “Versos só nossos, só de nós dois!”.