Ave, Kydelmir Dantas, capitão-mor dos sertões
nordestinos! Graças a esse cabra da peste, desbravador das caatingas paraibanas
de Nova Floresta, mistura de Jesuíno Brilhante, o Cangaceiro Romântico, e de
Corisco, o vingador de Lampião, repousa diante do meu espanto uma belíssima
edição dos “Sonetos” de Florbela Espanca.
Exemplar raro impresso em 1968, no Porto, Portugal,
sob os auspícios da Livraria Tavares Martins, que veio apostar em Mossoró não
se sabe como, especificamente no sebo do mestre Canindé. A última pista de sua trajetória
é o Rio de Janeiro daquela mesma década, mencionado na dedicatória “ao amigo
Paulino”, na primeira folha.
Seria repassado a alguém desconhecido, mas o destino conspirou
a favor deste que vos escreve. Bastaram os olhos de meu amigo tropeçarem nas
páginas daquela “que no mundo anda perdida”, por quem “Trago em meus lábios
roxos, a saudade”, que ali estava eu trocando, de bom grado, a verba dos uísques
pela “Flor do Sonho”.
Há fotografias da autora, seis ao todo, em diferentes
fases de sua vida tão curta quanto “O pó, o nada, o sonho dum momento”, além do
retrato pintado pelo aviador Apeles Espanca, irmão e, dizem as más línguas,
grande amor da mulher que revolucionou a poesia lusitana com sua vontade nua de
“Amar! Amar! E não amar ninguém!”.
A certidão de batismo, extraída dos alfarrábios do
Santuário da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, Matriz de Vila Viçosa, intercala
as páginas 160 e 161. Antes, entre as 144 e 145, um documento interessante: a
análise grafológica da poetisa, publicada na revista “Civilização”, de novembro
de 1929, fazendo observações como estas:
“A graciosa harmonia deste grafismo denota...
temperamento de artista... cujo idealismo, todavia, se não manifesta em tôda
sua plenitude... Inteligência culta, imaginação e viva sensibilidade, aliadas a
um apurado sentido estético, favorecendo, portanto, a expressão do pensamento
pelas formas perfeitas e melodiosas da poesia”.
Reli os sonetos, um a um, verso a verso, e parecia a
primeira vez. Sempre parece. As linhas de Florbela estimulam sensações novas a
cada visita. São as curvas líricas de uma mulher ardente, desveladas em ondas inebriantes
de sentidos. Depois, olhei-a até gastar os olhos da fotografia e fechei o livro
dos “Versos só nossos, só de nós dois!”.
3 comentários:
Artigo de luxo! E de inveja para muitos colecionadores!
De luxo, professora, é sua visita.
Muito obrigado.
Gostamos tanto e não falamos nada!
Somos apenas leitores,vorazes, egoistas, inacessiveis ao autor... ao poeta que nos alimenta o espirito e, felizmente, não se cala. Felizmente!!!
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