sábado, 24 de maio de 2014

O guru


Há mais mistérios entre o céu e a terra do que toda a sagrada filosofia de Juvêncio Bedegueba. Quando o mundo pensava que meu amigo Bruno Emanuel Pinto Barreto Cirilo cairia na gandaia, depois das últimas acontecências, o galego surpreendeu amigos e inimigos, em plena redação do O Mossoroense, com direito a fotografia, bolo e ponche, ao anunciar que pedirá demissão de jornal, rádio, TV e assessoria de comunicação, bem como renunciará a toda a forma de pecado, incluindo álcool e rock and roll.

Ateu convicto e militante, ele agora jura de pés juntos, mãos postas e olhos rútilos que, após década e meia, 26 dias, duas horas, três minutos e nove segundos de árduos embates filosóficos com nosso editor Márcio Costa, uma centelha de luz divina o penetrou, não no fundo, garante, mas profundamente, abrindo-lhe os olhos fechados para a espiritualidade desde quando frequentava as moçoilas do Canto do Mangue, o Alto do Louvor de Natal, sendo que na parte debaixo do vestido da Noiva do Sol.

A coisa é tão impressionante que até me esqueci dos pontos, limitando-me praticamente a vírgulas nos parágrafos anteriores, num emaranhado de orações subordinadas. Perdão, leitor, se o fiz perder o fôlego. Também estou afogueado. O anúncio do pequeno Barreto, sobrinho preferido de Emanuel Barreto, o Velho Barreto, meu querido professor da faculdade de jornalismo da UFRN, tomou-nos de supetão, em especial o desfecho: vai se mudar de cidade, de Estado, de País, tudo em prol de nossas almas.

Digo “nossas almas”, assim, convicto, porque ele, já distribuindo as primeiras vibrações positivas, assegura que intercederá por nós lá do Tibet. Sim, o Tibet, a capital espiritual do Universo, onde passará os sete primeiros anos de sua jornada em busca da verdade, ouvindo todos os supostos envolvidos nos enigmas da fé. A viagem, diz ele, começará 31 de fevereiro de 2015, no Templo dos Monges Virgens de Lhasa, a 3.683 metros acima do nível do mar, entre o Palácio de Potala e o Templo de Jokhang.

Inspirado nele, doravante meu líder espiritual, guru, futuro braço esquerdo do Dalai Lama, retiro-me da noite. Adeus, Snob, Psiu, Realce, Ferrão, Marrom Glacê, Burburinho, Vênus. Renego a cachaça, nada de Tatuzinho, Murim Mirim, Malhada Vermelha. Entrego-me ao celibato amplo, geral e irrestrito, sem anistia, certo de não voltar a cair nas tentações de Dorinha, Do Céu, Bataclã, Casa Grande, Paraibana, Creuza. Boêmia, não chores por mim, a santidade me espera, por obra de Bruno Barreto.

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