Três amigos concluíram
que chegara a hora de botar ponto final na donzelice. Era segunda-feira, baixa estação
no meretrício, único recurso disponível para causas da espécie numa época de
moças tecnicamente recatadas, muito antes da invenção diabólica da internet,
quando ninguém imaginava a democratização da libido nas redes sociais.
O tio de um
deles dera o toque quanto ao lugar perfeito, o famoso Cabaré de Dorinha, no
coração do bairro Santo Antônio. Indicara também a santa, Camilinha, sua amiga,
linda e caridosa morena de olhar de esfinge, que se oferecera em expiação, por
módicos cruzeiros, para devorar a tempestade de hormônios dos vibrantes corações
juvenis.
Com 13 anos,
embora a natureza contrarie a Lei, pessoas sentem desejo. Aos moleques antigos,
perder o cabaço dava status. Um deles precisava inclusive lavar a honra no
esperma, pois brochara com Mocinha nas ruínas da antiga Casa da MPB, no Rabo da
Gata, onde a ninfeta reuniu a galera a fim de provar a uma amiga que dava conta
de 10 caras.
Saiu-se mal na
aposta porque um, como se sabe, não deu no couro, irritando-a a ponto desmoralizá-lo
com a disseminação do fracasso. Outro jeito não restava ao rapaz, salvo aplacar
a história com sexo. E Camila parecia a chance ideal, de maneira que nem
pestanejou ao subir a bicicleta e pedalar com os comparsas na direção da casa
de recurso.
No destino,
como se não bastassem o medo e o cansaço, a cena dos meninos estacionando as
magrelas na calçada chamou logo a atenção dos presentes, que gritavam em meio à
risadagem geral: “Vão perder o cabaço!... Vão perder o cabaço!... Até que Nequinha,
o gerente, interferiu com seu famoso “Tem nada a ver!” e os levou à suíte da moçoila.
O cômodo era minúsculo
para a denominação pomposa. Dera-se por suíte, contudo, pelo fato de haver nele
compartimento de asseio equipado com quartinha, bacia, sabonete Phebo e toalhas.
Os lençóis da cama cheiravam a sabão de coco e o ambiente tinha um hálito de colcha
de retalhos de perfume açucarado, aguardente, fumo e genitálias.
“Quanto
custa”, perguntaram. “São os três, não é?”, retrucou a dona. “Sim, so...somos
três”, retomaram a palavra com olhos nos peitos da dita cuja, que os desafiavam
pelas frestas do vestido. “Hun... Quanto vocês têm?”. Meteram mãos nos bolsos e
expuseram argumentos. “É pouco, mas a noite tá fraca e me dou por caridade.
Quem é o primeiro?”.
Os espíritos
gelaram. “Zerinho ou um, quem ganhar fica por último”, propôs o da decepção com
Mocinha. Os demais, igualmente tensos, concordaram. “Zeriiiiiin ou um...
Perdeu, vá você”. E foi assim: os colegas e a mulher que se refugiara no
recinto “fugindo de um macho” assistiam Camila ler quadrinhos enquanto o garoto
metia – e tirava – brasa.
Pausa do
cigarro. Reinício da função. O menino 2 entra em cena e, lá para as tantas,
suspende o ato e passa ao interrogatório sobre aspectos pessoais e psicológicos
da figura entre suas pernas. Clima tenso e brochante domina a todos, até que o menino
3, vendo a hora perder a chance de defender sua masculinidade, sai no berro: “É
minha vez!”.
Dessa feita, terminou
de cabeça erguida, todavia por mera questão de honra, pois não atingiu o pretendido
orgasmo para compará-lo ao das satisfações manufaturadas. Puta com as perguntas
indiscretas, Camila já não foleava Gasparzinho, o fantasminha camarada, e exibia
a pressa de anteontem: “Goza logo, amore, tem cliente esperando lá fora”.
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