A culpa é
da tecnologia. Sim, da tecnologia, essa senhora de engenhos virtuais que nasceu
e se criou no quinto dos infernos, no ventre pecaminoso da preguiça, destinada
a escravizar a humana raça com os grilhões do sedentarismo físico e, principalmente,
mental. Coisa do capeta, do capiroto, do tinhoso, do coisa ruim, do cão. Há
quem diga até “O Google é meu pastor, nada me faltará!”.
Cruz-credo!
Ninguém memoriza endereço depois do GPS, número telefônico depois da agenda de
celular nem se aprofunda nas coisas depois da didática miojo dos buscadores de
Internet. Estes, por sinal, prometem satisfação absoluta em míseros três
minutos, como se induzissem a uma ejaculação precoce em códigos binários que
lambuza as coxas, mas não leva ao prazer de mesmo-mesmo.
O resultado
é dantesco e também Beatriz queda-se impotente para nos livrar dos ciclos
infernais da divina comédia da pós-modernidade. As pessoas, hipnotizadas pelas
ondas feiticeiras do ChifreBook e do ChifrezApp, perdem hábitos simples e necessários,
à espera de que máquinas lhes cumpram tarefas cotidianas básicas, a exemplo dos
atos de levantar a tampa e dar descarga no sanitário.
Determinado
amigo contou-me que, por pouco, não urina nas calças no toalete de certo
restaurante chique. A coisa era tão automatizada – ar condicionado, exaustor,
descarga, torneira, saboneteira, tudo eletrônico – que ficou diante do vaso,
inerte, na expectativa de que uma mão eletrônica lhe abrisse a braguilha,
sacasse, segurasse, sacudisse e devolvesse o guerreiro a seus aposentos.
Não à toa, as
latrinas agora ostentam cartazes com instruções de uso, para que os filhos da
tecnologia não negligenciem a higiene do local. Coisas do tipo: “Ao usar
este banheiro: 1 - levantar a tampa ao urinar, 2 - cuidado para não urinar no
chão, 3 - jogar o papel na lixeira, 4 - não jogar papel no vaso sanitário, 5 -
ao usar dê descarga”. E complementa: “Manter sempre limpo, o próximo pode ser
você”.
Inclusive nos banheiros
aqui do jornal há decalques com dizeres parecidos. Nada comparado, no entanto,
ao alerta impresso em fonte 48, letras em caixa-alta negritadas, exposto num dos
mictórios do prédio do Ministério da Saúde, em Natal, destinado talvez a quem
anda depositando joões-teimosos por aí: “ATENÇÃO
– DESCARGA DE BAIXA VAZÃO, APÓS SEU USO, VERIFIQUE SUA CONCLUSÃO. INSISTA!”.
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