sábado, 9 de maio de 2015

Quem é ateu e viu milagres como eu


De volta à Universidade Potiguar (UnP), onde me formei em direito, agora na condição de professor, fiz questão de visitar um dos locais prediletos dos meus tempos de estudante: a biblioteca. Lá, dirigi-me à sessão de letras, na qual sempre me surpreende a presença de Bakhtin. Quem, onde não há cursos nessa área, anda lendo Estética da Criação Verbal, um dos meus prediletos, para justificar tantos exemplares da mesma obra?

A novidade, contudo, foi me deparar com os Cem Poetas de Mossoró, coletânea organizada pelo vate Caio César Muniz, em que, por gentileza do amigo e colega de trabalho no O Mossoroense, compareço com um poeminha raquítico, de meia pataca, sem expressão que justificasse sua adição aos outros noventa e nove. É uma espécie de “obra” dentro da obra com o selo da Coleção Mossoroense, do mestre Vingt-un Rosado.

Mas tive sorte. Os versinhos tortos ganharam disfarce de linha reta no texto dedicado a mim por Antônio Rosado Maia, no livro achado na horizontal, indicando que ao menos o folhearam há pouco, enquanto outros padecem na espera vertical da prateleira. Grande Toinho! Não obstante o diminutivo do apelido, grande no físico, na moral, na coragem, na polêmica, na inteligência, agora em festa, feito criança, por receber Anabela.

Anabela Vicente Alexandre não era apenas a Anabela de Toinho Rosado, como todos a conhecíamos. Era um múltiplo, esposa, mãe de Dadazinha, advogada, artista plástica, versada em música e literatura, amiga incondicional, daquelas que sabem o momento e a forma de nos oferecer a palavra. Tenho o privilégio de haver convivido com ela e Toinho, em especial nos sábados etílico-culturais do Sertão Lusitano ou Sertão Verde, como queira.

“Quem é ateu e viu milagres como eu”, caetanamente falando, deve suspeitar que não encontrei a obra de Caio Muniz, poeta da admiração de Toinho. A obra que se lançou aos meus olhos, no dia seguinte à partida de Anabela. Foi como se me dissessem, os dois, que finalmente se reencontraram e que a morte apenas cumpriu o papel de libertá-los das amarras do corpo físico para fazê-los felizes para sempre na eternidade da memória.

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