Cheguei à praia no fim da tarde,
o mais tarde que pude, por causa de minha relação de amor e ódio com o litoral.
Trouxe livros que vou lendo devagarinho, pois a maresia obriga-me a lavar as
lentes dos óculos de quando em quando e o balanço da rede dá um sono dos diabos.
Na primeira noite, os poetas
Paulo Maia e Florina da Escóssia fizeram-me companhia. O livro de Paulo Maia,
“Tempo Quanto Tempo”, tomou-me a atenção desde a dedicatória de Sofia, a
ilustradora: “‘F’ de feliz porque você comprou o livro meu e do meu pai”. Viu
aí?
Poemas de amor, essencialmente, amor
à musa, ao ofício, a Natal, escritos ao longo de 17 anos, segundo revela o
autor, e apadrinhados no prefácio de Diógenes da Cunha Lima. Gosto de poemas de
amor, músicas de amor e até das mentiras do amor, desde que haja amor.
Tomo a liberdade de recomendar,
além daquele que dá título à publicação, os textos Retrato, Janeiro, Deixar
Natal é Abandonar a Pátria, A Liberdade, Mente, De Repente e Lápide, sem
descuidar dos desenhos de Sofia, cuja assinatura arrasta um coração na perninha
da letra “a”.
Nas linhas iniciais de Florina,
vi Lauro da Escóssia, o velho, caminhando com o joelho ardendo. Quase alcancei
o lançamento de “Pétalas”, também de joelho em petição de miséria, mas o
acidente envolvendo um amigo que precisou de auxílio desviou-me do caminho.
A paráfrase de Pasárgada contrasta
com a terra imaginária de Manuel Bandeira, onde há prostitutas bonitas e
alcaloide à vontade. Por que mendigar a amizade do rei quando se pode ser
rainha investida dos poderes necessários para deitar e rolar na reinvenção da poesia?
Ao ler “Sou Fruto de Mossoró e
Tibau”, referenciado na orelha de Aluísio Barros e no prefácio de David Leite,
pesou-me a consciência por reclamar da maresia nos óculos. Saudade das feições
antigas da Rua do Brisa, dos morros coloridos, das pranchas de isopor, dos
tatuís.
“Tempo Quanto Tempo” é de 2010 e
foi editado pelo livreiro Abimael Silva, do Sebo Vermelho; enquanto “Pétalas” ganhou
tinta e papel no final de 2014, sob os auspícios da editora Sarau das Letras, projeto
recente, mas já vitorioso dos escritores David Leite e Clauder Arcanjo.
Tudo lido e escrito, resta
implorar que o sono dê as caras antes de o Sol anunciar-se na janela ou de a
maré-cheia lamber a soleira da porta, naquela orgia das ondas com o vento. Ou
pior, antes que o batalhão de meninos sem regimento antecipe a inauguração da
manhã.
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