Eu não te amo.
Coisa tipo assim de matemática,
como de dois mais dois resultam quatro.
Não poderia amá-la sobre camas
alheias onde lençóis escondem o suor das sombras e os travesseiros brancos
estão sujos de sussurros e gemidos.
Se mal me lembro, esticando os
braços da memória, que são longos, embora cansados de mover músculos contra a
corrente das mágoas, nunca amei ninguém.
Acusam-me, ao menos, de ser
assim, o vendaval que se soltou numa espécie de cântico negro, arranca
telhados, derruba árvores, depois passa fincando rastros sem deixar raízes.
Este coração panteísta, que não é
meu, é da natureza, sempre bateu sozinho “em dor maior”, pensando-se um samba
de Cartola.
Mente, ele mente, sim, quando
pensa que ama. Por instinto.
Apega-se inutilmente à sobrevida das
paixões eternas que, ao amanhecer, o sol despeja na vala comum do cemitério das
estrelas cadentes.
Eu talvez te ame.
Na matemática, quase sempre dois
mais dois resultam quatro. Li no jornal – e alguém errada feita me disse – que
pode dar cinco, com 99,99% de certeza.
Putz!!! Um beijo de madrugada
pode mudar as certezas do universo, quanto menos as regras de uma reles alma
humana.
Só que não!
No mar das probabilidades e
estatísticas, o amor flutua na exatidão dos humores da lua, ao sabor do fluxo e
refluxo das correntes submersas entre Bahia e Benin.
Flutua, pende pra cá, balança pra
lá e rasga de proa o coração das ondas, que, depois do impacto, juntam os
próprios pedaços.
Parece até o mesmíssimo atlântico
de sempre. Nem guardam cicatrizes.
Eu te amo.
A matemática tem lá os seus
problemas insolúveis.
Talvez nunca tenha falado isso
com todas as letras, cores e alguma convicção.
Eu te amo, não sei quando, onde,
como, por que ou quanto.
Apenas amo e, acredite, isso
bastaria à flor mais bela, partindo de alguém que ama, ama, ama... e não ama.
Até porque, o amor, o ridículo e desgastado
tema, não tem hora, lugar, motivo, a não ser no lirismo cafona que se perpetua
na amnésia dos copos vazios.
Não lembrar é a melhor maneira de
não esquecer.
Quem é você?
Se te amo, mas não lembro em
outros braços, significa que jamais a esquecerei. Esse amor será eterno, apesar
de nunca haver existido.
Não amo.
Talvez ame.
Amo, caraca, e daí?
Meu amor não vale a comida que come.
Meu amor não vale a comida que come.
Nenhum comentário:
Postar um comentário