sábado, 21 de junho de 2014

MEU AMOR


Eu não te amo.

Coisa tipo assim de matemática, como de dois mais dois resultam quatro.

Não poderia amá-la sobre camas alheias onde lençóis escondem o suor das sombras e os travesseiros brancos estão sujos de sussurros e gemidos.

Se mal me lembro, esticando os braços da memória, que são longos, embora cansados de mover músculos contra a corrente das mágoas, nunca amei ninguém.

Acusam-me, ao menos, de ser assim, o vendaval que se soltou numa espécie de cântico negro, arranca telhados, derruba árvores, depois passa fincando rastros sem deixar raízes.

Este coração panteísta, que não é meu, é da natureza, sempre bateu sozinho “em dor maior”, pensando-se um samba de Cartola.

Mente, ele mente, sim, quando pensa que ama. Por instinto.

Apega-se inutilmente à sobrevida das paixões eternas que, ao amanhecer, o sol despeja na vala comum do cemitério das estrelas cadentes.

Eu talvez te ame.

Na matemática, quase sempre dois mais dois resultam quatro. Li no jornal – e alguém errada feita me disse – que pode dar cinco, com 99,99% de certeza.

Putz!!! Um beijo de madrugada pode mudar as certezas do universo, quanto menos as regras de uma reles alma humana.

Só que não!

No mar das probabilidades e estatísticas, o amor flutua na exatidão dos humores da lua, ao sabor do fluxo e refluxo das correntes submersas entre Bahia e Benin.

Flutua, pende pra cá, balança pra lá e rasga de proa o coração das ondas, que, depois do impacto, juntam os próprios pedaços.

Parece até o mesmíssimo atlântico de sempre. Nem guardam cicatrizes.

Eu te amo.

A matemática tem lá os seus problemas insolúveis.

Talvez nunca tenha falado isso com todas as letras, cores e alguma convicção.

Eu te amo, não sei quando, onde, como, por que ou quanto.

Apenas amo e, acredite, isso bastaria à flor mais bela, partindo de alguém que ama, ama, ama... e não ama.

Até porque, o amor, o ridículo e desgastado tema, não tem hora, lugar, motivo, a não ser no lirismo cafona que se perpetua na amnésia dos copos vazios.

Não lembrar é a melhor maneira de não esquecer.

Quem é você?

Se te amo, mas não lembro em outros braços, significa que jamais a esquecerei. Esse amor será eterno, apesar de nunca haver existido.

Não amo.

Talvez ame.

Amo, caraca, e daí?

Meu amor não vale a comida que come.


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