Dizem que os Engenheiros do
Hawaii venderam 400 mil cópias, em 1990, do álbum "O Papa É Pop". Eu
tinha um em vinil. Músicas como "O Exército De Um Homem Só",
"Era um Garoto Que, Como Eu, Amava os Beatles e os Rolling Stones" e "Pra
Ser Sincero", além daquela que intitula o projeto, são ouvidas até hoje em
casas noturnas do Brasil, de Norte a Sul.
O carro-chefe do disco, aqui para nós, numa
interpretação ultrapessoal, critica a massificação dos fatos e das pessoas pela
mídia, a ponto de tudo e todos se tornarem alvos do bem e do mal. Nem o papa
João Paulo II, que "Deus deu de Graça", conforme Gonzação, foi
poupado de manchetes e de "um tiro a queima roupa", afinal "o
pop não poupa ninguém".
Karol Wojtyla era querido e respeitado. Ocupou o trono
de Pedro por quase 27 anos, a partir de 1978. O nome dele reverberava nos
templos como a do santo a que será elevado. Foi estadista, falava 13 idiomas, influenciou
o fim do comunismo na Europa, aparou arestas com judeus, islâmicos, ortodoxos
e anglicanos. Visitou 129 países, só o Brasil por quatro vezes.
O hino dos Engenheiros, da autoria de Humberto
Gessinger, é o que vem à mente com as transformações históricas às quais
assistimos desde a fumaça branca do último conclave. O chefe supremo dos católicos
no Twitter, igual a qualquer cidadão,
tirando onda com a brasilidade do Todo-Poderoso - "Deus é brasileiro e vocês queriam um papa?". Quem diria!
O papa Francisco é pop,
muito mais que os antecessores. Sua mensagem ao Brasil foi ouvida com simpatia até
por seguidores de outros credos, agnósticos, ateus. O Vaticano, acostumado a
impor dogmas goela abaixo e a proteger pedófilos sob batinas, ganhou líder capaz
de trazer a instituição à realidade do terceiro milênio e frear a debandada de
fiéis.
Justiça seja feita a Bento XVI, que, no corajoso ato de renúncia, revelou a humildade que
ninguém enxergava nele e pôs fim à ideia faraônica da infalibilidade. A
humanização, no entanto, está na carne e no sangue latino de Jorge Mario Bergoglio,
cujo grande desafio será colocar a instituição mais rica do Planeta a serviço dos
pobres. Tomara que consiga.
Um comentário:
Não há como trazer essa instituição religiosa "à realidade do terceiro milênio". A fé não caminha com a realidade. (Papas bonzinhos são igualmente perigosos - CUIDADO!)
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