Casa das Lâmpadas, de David Leite, e Futebol de Mossoró, de Lupercio Luiz, chegam-me praticamente ao
mesmo tempo, ambos com a elevada qualidade gráfica que caracteriza as
publicações da Sarau das Letras, editora capitaneada pelo escritor Clauder
Arcanjo.
Faz poucos dias, no mesmo patamar
estético, veio-me Gênese, de Leonam
Cunha, jovem poeta de Areia Branca que descobri ser filho do meu amigo Manoel
Cunha Neto, o Souza, mas não antes de lê-lo, de maneira que não se contaminou o
juízo.
Cada qual me conta um punhado de
histórias, personagens, lugares, imagens. A prosa e o verso a serviço da
memória e da imaginação.
As lâmpadas da casa de David Leite
abrem-me portas antigas e iluminam o caminho para reencontrar pessoas queridas,
a exemplo de Marieta Lima, Raibrito, João Batista Cascudo, Vingt-un Rosado,
Dorian Jorge Freire. Se não falasse dos frades carmelitas, não seria dele o
trabalho. E fala muito bem, com a propriedade de sempre. Há, entre fatos e
gentes, fragmentos dos anos 1980, maravilha para nós, criaturas do século
passado.
Para um sedentário convicto e
militante da minha espécie, tudo é novidade no Futebol de Mossoró, seja história pequena ou grande. Descobri,
graças a Lupercio, filho de Luiz Bolão e Maria Neuza, que a primeira bola chegou
a Mossoró em 1917, trazida do Rio de Janeiro por José Fernandes de Queiroz.
Humaitá e Ypiranga, os primeiros times. O jogo Flamengo x Baraúnas, em 1985,
por incrível que pareça, assisti bem de pertinho, na lateral do gramado. Ainda
não encontrei o gol que Etevaldo fez de cabeça após bater o escanteio. Pode
estar adiante.
A gênese da poesia de Leonam
Cunha é tanta coisa, tanto de imagem,
que se pode começar de qualquer parte. Da ginga com tapioca, do torto e
do moderno, do ornitorrinco. Quem sabe do princípio, num hino a Epicuro e sua
busca filosófica por felicidade e prazer. É para ser lido com calma, em doses,
afinal o poeta, garante ele, não vai sair por aí. Aguarda paciente que as
metáforas se esparramem no papel. Evoé!
Três autores de estilos e ao
menos duas gerações diferentes, três maneiras de enxergar o mundo, três
experiências literárias dignas, que Clauder Arcanjo escalou para o time da
Sarau das Letras.
E agora, com licença que vou
continuar a leitura, aproveitando a inspiração da chuva.
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