A onda vem, os cascos se erguem
palmo e meio. Depois, quando passa, descem nos movimentos ensaiados de um balé.
Sonham romper as correntes e partir para o mais do longe, voltar a lugares onde
nunca estiveram, pois cada viagem ao infinito é o mesmo déjà-vu.
Incrível ser o mar aquele de há
tantos séculos e, ainda assim, causar espanto a quem traz limbo e conchas no leme,
marcas do tempo na lida do oceano, das viagens entre a terra e até depois da
linha do horizonte, onde as vistas dos homens sem alucinação poética não
alcançam.
No continente, sobre dunas
imprecisas, velas dobradas, mastros arreados, apenas a maresia consola outros
tantos que, infelizmente, não alcançaram a graça de serem embalados nos braços
invisíveis de Iemanjá. Estes olham, invejam que nem pessoa, sonham a precisão
do navegar.
Nem âncora nem chão. Melhor viver
à deriva do que morrer em porto seguro. Ao sabor incontrolável do fluxo e do
refluxo das águas, pode-se ao menos tropeçar displicentemente no canto das
sereias, afogar-se no ar, embriagar-se no olho do furacão e gozar nas coxas dos
maremotos.
Tempos atrás, quando o mundo era
quadrado e acalentava um abismo em cada lado do seu fim, todos amavam o perigo,
as agitações. Hoje, entretanto, preferem a segurança do estaleiro. É que a maré
não está para piaba e qualquer tentação de flutuar só pode resultar naufrágio.
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