Na madrugada depois de tanto tempo, eu e o
poeta Caio César Muniz, dividindo copos de tristeza, percebemos, angustiados,
que a noite de Mossoró não é mais aquela.
Na realidade, assaltou-nos a dúvida sobre as supostas
mudanças, se afetaram a noite em si ou os nossos olhares de boêmios de asas
quebradas que talvez tenham perdido o jeito de paquerar as estrelas.
De qualquer modo, apenas a seresta da praça
do Alto da Conceição, de frente ao casarão de Dedé do Sandubar, mestre-cuca,
humorista e versejador fescenino, socorre a humanidade às segundas-feiras.
Fica também pertinho do mercado, aonde eu ia
de bicicleta, oriundo do Rabo da Gata, para tomar suco de maracujá e comer
pastéis. O velho prédio, apesar do abandono, consegue nos emprestar algum
lirismo.
Talvez mercados sejam essencialmente líricos
por amanhecerem as cidades, por suas formas arquitetônicas, as coisas
dependuradas, as carnes expostas, as figuras que o povoam.
No tocante à povoação, há em todo mercado ao menos
um louco, um bêbado, uma personagem folclórica, um contador de causos.
Espaço mais democrático é difícil encontrar,
a não ser, como no lamentável episódio da Cobal, quando resolvem expulsar
artistas em pleno 14 de março, Dia da Poesia, sob a acusação de estarem
declamando poemas.
Caio Muniz continua bom de copo e afiado na
palavra. Brindamos a Neruda – “Posso escrever os versos mais tristes esta
noite” – e nos despedimos um do outro e da quase manhã, tristes, em frangalhos,
distantes dos leitos sagrados das nossas amadas.
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