Vesti o paletó cinza-claro para
trabalhar quinta-feira. O dia inteiro. Ninguém percebeu. Parecia um daqueles
que tenho usado nos últimos meses, como castigo por haver me formado em Direito
e passado no exame da OAB. Eu, que sempre andei de camiseta e calças jeans, agora
de terno e gravata. Absurdo!
Diazinho complicado, a tal da
quinta, de muita saudade por um lado e muita esperança de outro. Onze anos sem o
antigo proprietário do paletó cinza-claro, meu irmão Vingt Neto, para quem olho
todos os dias, os dias todos, nas fotos. Colação de grau de minha filha Sandra
Maria, uma vitoriosa, no curso de Fisioterapia.
Chorei, dividindo e misturando
lágrimas. Tanta saudade, tanta alegria. E eu que misturo de tudo, amor e ódio, mal
e bem, paixão e desespero, mulheres particulares e coletivas, ciúme e
desprendimento, aqui, confuso entre as palavras, matéria-prima de meu suor
cotidiano.
Encontrei meus pais na formatura,
mais sofridos e mais alegres. Disse-me, o meu pai, que a vida passa ligeiro,
sem tempo de a gente saber se fez tudo que nos cabia, o programado pelo destino,
o esperado pelas pessoas. Terá o Galego concluído a missão dele ao se fazer
sonho? A que universos remete o destino de Shanshan?
Reli um poema de Caio Muniz velho que nem a dor, 11 anos,
"Sobre um Guerreiro Adormecido". Li versos nos olhos de minha filha,
fotografei-lhe o sorriso, os abraços dos colegas, a assinatura no diploma, a força
vital de um soneto fervilhante na cabeça, as mãos que no ocaso farão de meus
olhos o silêncio.
As homenagens aos dois, feitas por seus respectivos amigos, vários
comuns a ambos, partiam e remendavam-me o coração meia-vida que, a despeito das
cicatrizes e das feridas ainda abertas, teima em trabalhar no ritmo das ilusões.
Pendurei o paletó cinza-claro no cabide ao fim daquela
quinta-feira, 19 de julho de 2012, e me pus a escrever até agora, quando a
exaustão me encontra alegre, triste, poeta, obrigando-me a encerrar este
arremedo de crônica dedicado ao meu irmão e à minha filha, a saudade e a esperança
que ao fim e ao cabo me enchem de humanidade.
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