Não devo reclamar da vida. Afinal, se passo por dificuldades financeiras, isso se deve a incompetência de minha parte, por nunca haver me preocupado com cargos, bens e valores. Desde que resolvi caminhar com as próprias pernas, lá pelos 17 anos, raros foram os períodos de tranquilidade financeira. Também, com as minhas inconstâncias matrimoniais e suas repercussões econômicas, como diabos alguém prosperaria?
O fato é que estou aqui, às 4h02min, segundo me diz o
relógio do computador, sem conseguir dormir, apavorado com as contas do início
do mês, o vencimento do cartão de crédito e o estouro do cheque especial. A
solução talvez fosse vender alguns livros e discos. Não, Cascudo, Florbela,
Manoel de Barros, Dante, Foucault não têm nada a ver com isso. E os Beatles?
Chico Buarque muito menos, no vinil que ainda toca com açúcar e com afeto.
Podia ter tomado uns tragos para entorpecer as ideais. Ontem
foi segunda-feira e creio haver um restinho de Ypioca prata no congelador. Não
deu. Acabo de sair da covid-19, após 13 dias de molho, completados hoje, e,
apesar de já assintomático, optei por protelar o retorno às atividades etílicas
até o final de semana. Além disso, não pareceu que cachaça cairia bem, porque é
só pensar na garrafa para a saliva descer gritando “u-ís-que”!
A grana por enquanto não dá para o uísque, cuja idade
diminui a cada ano. Privilegiemos a Cosern, que mensalmente nos assalta com
suas bandeiras amarelas e vermelhas, que chegam a aproximadamente 20% do valor
da fatura. Ah, nem vou dizer da gasolina, que não demora vai bater os R$ 8,00 –
oito contos, como afirmaria Abimael do Sebo Vermelho. O carro está na garagem e
só circula em momentos necessários ou especiais.
Quando concluí o curso de direito e superei o Exame da OAB,
pensei que os tempos incertos do jornalismo transformar-se-iam em lembranças
engraçadas – fiz até essa mesóclise para intercalar a saudade que sinto dos
salários atrasados do O Mossoroense –. A advocacia é uma gangorra para
quem não tem clientes fixos nem desenvolveu o espírito empreendedor, a exemplo deste
indivíduo que vos escreve, ainda insone, já às 5h00min.
Tudo bem. Não me queixo. Ainda jovem, no verdor da
adolescência, li Francisco Otaviano e decidi não passar pela vida em branca
nuvem. Se me faltam tostões a esta
altura do campeonato, sobram-me lembranças de amores e madrugadas, patrimônios
imateriais da boemia, sem dizer do talento para cultivar ilusões no terreno seco
dos desenganos. Espera! Deixa abrir a janela. É, o Sol nasceu pálido, mas os
pássaros garantem a claridade.
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