sábado, 21 de dezembro de 2013

O colecionador de imagens


Permanecemos aqui, trinta e tantos anos depois. Eu e minha irmã. Quando não mais estivermos, nem eu nem ela, aquele instante capturado na fotografia – quem a terá feito? – continuará vivo, pulsante, na imaginação de quantos nos virem crianças naquele cenário onde ensaiamos nossos primeiros passos.

Rua Meira e Sá. Portão largo, coqueiros altos, cisterna, choro antigo de menino besta, queda, dentes quebrados, cheiro de sopa, dos pães de Kiko. Nas imediações, Mercado Central, Beco das Frutas, Catedral de Santa Luzia. A casa de doutor Vingt e dona Lourdes... de dona Alice... de dona Treze... Hotel Caraúbas...


Lara nem lembra, nem poderia, e ainda brinca: “Deixe de conversa, Cid Augusto!”. Juro, eu lembro. Em pedaços, mas lembro. Dessas e de outras coisas. Detalhes, apenas flashs, nada completo, somente o bastante para enxergar, com olhos do hoje, a esperança estampada nos olhinhos da eterna criança do ontem.


Há outras fotos. A de um beijo, por exemplo. Não exatamente a do beijo, a da moça do beijo que evoca a trama, a saliva, o desejo. O desencontro. O reencontro. Maravilha de destino! Dorme, a mesma criatura de olhos castanhos, a poucos metros de mim, enquanto a madrugada, devassa, abre as pernas para o Sol.

Quantas lembranças! Coisas do tempo do “Do Bumba” revividas graças a Caby da Costa Lima, nosso Camaradinha, colecionador de amigos que, de tempos para cá, resolveu também juntar imagens. Imagens de amigos e de alguns ilustres desconhecidos, para, por meio delas, contar a História humana de Mossoró.

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