Permanecemos aqui, trinta e tantos anos depois. Eu e minha
irmã. Quando não mais estivermos, nem eu nem ela, aquele instante capturado na
fotografia – quem a terá feito? – continuará vivo, pulsante, na imaginação de
quantos nos virem crianças naquele cenário onde ensaiamos nossos primeiros
passos.
Rua Meira e Sá. Portão largo, coqueiros altos, cisterna,
choro antigo de menino besta, queda, dentes quebrados, cheiro de sopa, dos pães
de Kiko. Nas imediações, Mercado Central, Beco das Frutas, Catedral de Santa
Luzia. A casa de doutor Vingt e dona Lourdes... de dona Alice... de dona
Treze... Hotel Caraúbas...
Lara nem lembra, nem poderia, e ainda brinca: “Deixe de
conversa, Cid Augusto!”. Juro, eu lembro. Em pedaços, mas lembro. Dessas e de
outras coisas. Detalhes, apenas flashs,
nada completo, somente o bastante para enxergar, com olhos do hoje, a esperança
estampada nos olhinhos da eterna criança do ontem.
Há outras fotos. A de um beijo, por exemplo. Não exatamente a
do beijo, a da moça do beijo que evoca a trama, a saliva, o desejo. O
desencontro. O reencontro. Maravilha de destino! Dorme, a mesma criatura de
olhos castanhos, a poucos metros de mim, enquanto a madrugada, devassa, abre as
pernas para o Sol.
Quantas lembranças! Coisas do tempo do “Do Bumba” revividas
graças a Caby da Costa Lima, nosso Camaradinha, colecionador de amigos que, de
tempos para cá, resolveu também juntar imagens. Imagens de amigos e de alguns
ilustres desconhecidos, para, por meio delas, contar a História humana de
Mossoró.
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