Mossoró se vê de longe.
Antigamente - o antigamente da minha infância e adolescência -, a cidade só se manifestava
quando o viajante cortava o lombo do Alto de São Manoel. Isso, se viesse das
bandas de Assú, pois, na procedência de Tibau ou de Aracati, pelo outro lado da
BR-304, as vistas alcançavam a área urbana na linha do Puxa-Boi.
Quem chegasse de Areia Branca, de
Governador Dix-sept Rosado, de Apodi, de Baraúna, praticamente despencava em
nossas ruas, sem aviso prévio. De Apodi, na verdade, a fábrica de cimento, que
era tão longe, tão distante, tão afastada, antecipava de certa maneira o
encontro, espécie de anteclímax da penetração na faixa habitada do velho município.
A geografia nos reservou um vale
sem montanhas, à margem do rio hoje perene, mas poluído por todas as pessoas de
todas as localidades pelas quais ele tem a má sorte de passar. Menino,
escondido de meus pais, fazia festa nas águas das chuvas de verão: Barragem de Genésio,
Ponte de Ferro, Centro, Paredões, e sítios de parentes e amigos.
Bem ou mal, os tempos mudaram, as
coisas avançaram. A "cidadona", como a classificou o historiador
Raimundo Nonato da Silva em 1919, ano de sua mudança para cá, aos 12 de idade, encaixou-se
nessa definição, ganhando ares e problemas de metrópole. Cem homicídios em seis
meses bastam para revelar o quanto a tribo dos monxorós "evoluiu".
Mossoró virou uma senhora exibida,
cujas luzes projetadas no céu escuro parecem próximas a qualquer observador. Mesmo
sob o sol nordestino "de dois canos, de tiro repetido", na expressão de
João Cabral de Melo Neto, as silhuetas dos arranha-céus, aglomerados
especialmente no bairro Nova Betânia, mostram-se no rastro de quilômetros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário