O artista plástico Rogério Dias iniciou,
nas redes sociais, uma intensa campanha contra a violência em Mossoró. Pouco
antes, estive na casa dele, onde conversamos sobre o assunto, a necessidade,
segundo me disse, do apoio de empresários, representantes de entidades de
classe, autoridades, com o cuidado de não partidarizar a coisa.
Lembrei-me dos meus tempos de
repórter de polícia, em fins da década de 1980, início dos anos 1990, quando os
ditos elementos perigosos limitavam-se a arrombar residências vazias e furtar
toca-fitas de carros. Crimes violentos de fato eram raros na crônica policial,
e os homicídios geralmente decorriam de circunstâncias fortuitas.
Havia os maconheiros
tradicionais, pequenos traficantes da erva maldita e figuras curiosas chegadas a
atos de zoofilia. Até confusão entre vizinhos
podia gerar noticiário, dada a escassez de material jornalístico no setor.
Não dá para se esquecer dos
infelizes detidos por “embriaguez e desordem”. Certo delegado costumava, às
segundas-feiras, promover a soltura coletiva desses indivíduos e, se o caso
fosse de briga, os valentões tinham que sair abraçados e assim caminhar até o
outro lado da rua.
Aqui no centrão, onde se localiza
o jornal, sempre me deparo com deliquentes das antigas, todos aposentados,
vivendo de lavar e pastorar veículos, de vender artesanato. Nenhum deles, por
pior que fosse, amarraria a chuteira dos meninos de 15, 16, 17 anos de hoje,
envolvidos com tráfico de drogas e assassinatos.
Garotos com pistolas de grosso
calibre atravessadas na cintura, crianças e adolescentes com várias mortes nas
costas, causadas desde a disputa por pontos de tráfico até pequenas dívidas
contraídas por usuários de entorpecentes.
Cento e oitenta e cinco
homicídios em 2011, oitenta e sete em 2012. Talvez por isso o Palácio da
Resistência tenha criado o epíteto “metrópole do futuro”, sendo a violência a
maior ou talvez a única característica.
Quem, nos velhos tempos,
imaginaria tal realidade em Mossoró? Certamente ninguém, do mesmo modo que
jamais cogitei perder colegas de trabalho para o crack, mentes brilhantes
reduzidas ao vazio por essa droga dos seiscentos diabos, que rouba a humanidade
dos seus usuários, transformando-os em zumbis.
Daí o grito quase solitário de
Rogério Dias, ao qual me somo neste artigo e no apoio à difusão do material
produzido por ele. Façamos algo, pois, como nos alerta o publicitário, poeta e
polemista, qualquer um de nós pode ser a próxima vítima.
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