Todos
dormem. Na penumbra rajada pelo luar que atravessa as frestas da janela do
quarto, ouvidos de ouvir canção de nada servem aos barulhos da madrugada e
olhos vermelhos que arremedam vaga-lumes contemplam, em via reversa, a
imensidão do nada. Por dentro, o ser humano em estado de coisa – coisificado –
é a primitiva expressão do caos.
Abafado
para chuva de verão. O suor na testa denuncia tanto a quentura quanto a
precariedade do ventilador de teto cujas hélices gemem e gemem e gemem. Gole da
água no copo de alumínio sobre o criado-mudo não basta, pois a garganta seca, inflamada,
reclama dilúvio que a ajude a deglutir a insônia atravessada faz eras no
desfiladeiro do pescoço.
A
memória em condição vegetativa, mastiga, macrobioticamente, palavras que achou abandonadas
no twitter: “‘Você me ama?’ Não é
pergunta que se faça/ ‘Amo!’ não é resposta que se dê”... “‘Você me ama?’ Não é
pergunta que se faça/ ‘Amo!’ não é resposta que se dê”.... “‘Você me ama?’ Não
é pergunta que se faça/ ‘Amo!’ não é resposta que se dê”...
As
muriçocas mais parecem urubus, essas sebosas, quase matam o sujeito de anemia.
Elas e o calor, o calor e o suor, o suor e o ventilador, o ventilador e as
hélices, as hélices e os gemidos, os gemidos e a insônia, o acocho no juízo.
Podia estar agora em Lyon, entre os cinzeiros e as garrafas, com os cabelos
grisalhos derretidos no colo de uma qualquer.
Quando
descoisificar, voltar a ser gente nos próprios ossos e carnes, a janela estará
escancarada, permitindo o vislumbre das aves noturnas em pleno exercício de voo.
A cidade, enternecida, arreganhará gentilmente os seus bares, implorando para
ser acariciada, lambida, penetrada até que o Sol abençoe a Terra com seu gozo
de luz. Todos acordaram.
2 comentários:
mas como é bom persistir no erro.
Olá amigo Cid,
É bom estar novamente lhe visitando. Vejo as grandes novidades escritas e comentadas por você´.
Estive recentemente as voltas com a criação de um novo blog,(o terceiro) O que seré um prazer lhe receber.
Geraldo
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