Inacreditável: acabo de disputar o banheiro com Papai Noel. Ele chegou transtornado, suando feito tampa de chaleira, e furou a fila sem a menor cerimônia. A vez era minha, juro por Deus, então protestei gritando um “Êpa!” logo ecoado nas bocas dos demais sofredores. Alguns, em situação visivelmente pior, acrescentaram desaforos ao enredo.
Depois de encastelado naquele templo de ágata, muito bem sentado no trono, o Bom Velhinho passou a nos desejar fortuna, amor, paz, e a clamar paciência, como um perfeito cristão. Em seguida, hô-hô-hô, começou a nos intimidar: se não o deixássemos esvaziar o saco e coisa e tal, usaria as missivas com nossos pedidos a fim de limpar o fiofó.
A galera apelou, pois chantagem dessa ordem é inadmissível. Queria arrancar o indivíduo pelas barbas brancas, enfiar-lhe goela abaixo a bolinha do gorro, chutar-lhe a enorme trouxa vermelha. Ninguém, no entanto, conseguiu aproximar-se. A inhaca de peru estragado na véspera – eca! – avançava pelas frestas da porta e rechaçava o inimigo.
Interferi, mas quase apanhava. Ofereci a vez, mas não colou. Propus enviar carta por debaixo da porta, mas o papel estava lá dentro. Chamar Rafinha Bastos para comê-lo com barriga e tudo, mas Ronaldinho reclamaria. Chael Sonnen para desafiá-lo estapeando o bumbum da Mamãe Noel, mas a Lei da Palmada complicaria a vida do lutador.
Santa Claus demorou além do necessário. “De pirraça”, diziam os sobreviventes da fileira já um tanto acrescida de desesperados. O sujeito ainda provocava cantarolando “Jingle bells, jingle bells, acabou papel”. Foi quando perdi as vontades e debandei, não sem bater à porta e mandar o tal Papai Noel... ter um feliz Natal e um profícuo “ânus-novo”.
Um comentário:
Fo...se as datas comemorativas...
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