sábado, 19 de novembro de 2011

Inveja de quem sabe cantar


O que dizer da mulher que traz a constelação de Cygnus inteirinha ajoelhada ao pé esquerdo? Estrelas imortalizadas entre o verde e o azul, destacadas nas incandescências da pele, se não me traíram os sentidos da aquarela naquele instante de alucinação coletiva.


Falar dos olhos que o sorriso aperta, dos lábios pintados em vermelho-coral para uma guerra de paz? Da cachoeira de cabelos negros pelas costas, das carnes fartas? Que tal as linhas sinuosas, o alumbramento, o pingo de ouro derretendo-se na fornalha do colo?


Os trajes sóbrios, impulso de embriagá-los em nudez! E ajoelhar-se ante a santa inspiração deste inocente pecador, clamar justiça às vistas famélicas capazes de cair em tentação num gracejo buarqueano, mesmo se fechados “os ouvidos e as janelas do vestido”.


Deu sede, mas água não passou. Qualquer poeta tem, nessas horas, necessidade de goles a mais de lirismo, do contrário perde as medidas do soneto e se lança à libertinagem surreal das metáforas. E o cronista, sendo também um qualquer, sufoca-se na prosa.


Ah, se eu fosse Manassés! Capaz de desvendar "A Lua, o amor e o mar", de traduzir em letra e acordes a paisagem inquietante que arrebatou linhas e entrelinhas da redação, de estender no "Varal do tempo" rosas em busca de Sol, de andar no rastro da musa.


Quem dera a sorte mineira de Renato Motha! Amanhar versos para Maria Rita colher: “Tens o teu escudo, teu tear/ Tens na mão, querida, a semente/ De uma flor que inspira um beijo ardente/ Um convite para amar". Dias assim, morro de inveja de quem sabe cantar.


2 comentários:

Fátima Silva disse...

estou encantada com estas crônicasque acabei de ler.gostaria de pedir permissão para copiar algumas no meu blog .ANTECIOSAMENTE FATIMA SILVA

Canto de Página disse...

Oi, Fátima, pode copiar à vontade. Será um prazer para mim.