O que dizer da mulher que traz a constelação de Cygnus inteirinha ajoelhada ao pé esquerdo? Estrelas imortalizadas entre o verde e o azul, destacadas nas incandescências da pele, se não me traíram os sentidos da aquarela naquele instante de alucinação coletiva.
Falar dos olhos que o sorriso aperta, dos lábios pintados em vermelho-coral para uma guerra de paz? Da cachoeira de cabelos negros pelas costas, das carnes fartas? Que tal as linhas sinuosas, o alumbramento, o pingo de ouro derretendo-se na fornalha do colo?
Os trajes sóbrios, impulso de embriagá-los em nudez! E ajoelhar-se ante a santa inspiração deste inocente pecador, clamar justiça às vistas famélicas capazes de cair em tentação num gracejo buarqueano, mesmo se fechados “os ouvidos e as janelas do vestido”.
Deu sede, mas água não passou. Qualquer poeta tem, nessas horas, necessidade de goles a mais de lirismo, do contrário perde as medidas do soneto e se lança à libertinagem surreal das metáforas. E o cronista, sendo também um qualquer, sufoca-se na prosa.
Ah, se eu fosse Manassés! Capaz de desvendar "A Lua, o amor e o mar", de traduzir em letra e acordes a paisagem inquietante que arrebatou linhas e entrelinhas da redação, de estender no "Varal do tempo" rosas em busca de Sol, de andar no rastro da musa.
Quem dera a sorte mineira de Renato Motha! Amanhar versos para Maria Rita colher: “Tens o teu escudo, teu tear/ Tens na mão, querida, a semente/ De uma flor que inspira um beijo ardente/ Um convite para amar". Dias assim, morro de inveja de quem sabe cantar.
2 comentários:
estou encantada com estas crônicasque acabei de ler.gostaria de pedir permissão para copiar algumas no meu blog .ANTECIOSAMENTE FATIMA SILVA
Oi, Fátima, pode copiar à vontade. Será um prazer para mim.
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