sábado, 1 de outubro de 2011

Arrumando o embornal

Estou arrumando o embornal para uns dias nos states. Cueca, meia, rapadura, garrafa com areias coloridas de Tibau, bomba de asma abastecida com oxigênio do Sítio Mororó, fotos das crianças e outros petrechos essenciais para quem deseja ganhar o mundo sem morrer de saudade.

Pretendo rever amigos em Wenatchee, cidade encravada no Estado de Washington, lamentando a ausência de um deles cujo coração, de muito ocupado em distribuir amor e generosidade, esqueceu-se das próprias funções orgânicas, parando de bater terça-feira, 10 de maio de 2011.

Mencionei-o em crônica que escrevi de lá, Karl Ohler, o “pai americano” de Samara e, por consequência, meu sogro postiço. A Expressão aspada carece de explicação: quando jovens participam de intercâmbios em países estrangeiros, eles se incorporam às famílias que os hospedam.

Minha companheira, que morou lá aos 17 anos, sempre o tratou com tal deferência. E eu também, desde a primeira vez que trocamos palavras por telefone, num drible ao inglês banguela que mastigo cabralinamente, como quem masca fonemas indo-europeus no idioma pedra de sertanejo.

Karen Ohler, a “mãe americana”, permanece entre nós. Quando a vi no inverno de 2006, ao descer do trem Amtrak que nos levou, a mim e a Samara, de Seatle até lá, lembrei-me de minha mãe. O porte físico, o olhar acolhedor, a assistência impecável para que nos sentíssemos em casa.

Curiosamente, Karl não era estadunidense por nascimento. Seu berço, aos 8 de fevereiro de 1952, foi Belícia, Croácia, de onde se mudou para Wenatchee com apenas sete anos. Brindamos com uma aguardente croata, de mais de 70 graus, com saudação apropriada. Algo como “Givili”!

O jornal da cidade de aproximadamente 40 mil habitantes, com tiragem de 40 mil exemplares, noticiou o falecimento: “Karl tinha aparência austera, mas todos que o conheciam podiam ver através dela. Ele era um homem honrado, excelente marido e pai, e uma pessoa maravilhosa”.

E prossegue informando sobre suas paixões, entre as quais as partidas de golfe e os pássaros. “Sua família incluía uma variedade de cinco papagaios”. No meio do texto, uma expressão que resume o caráter do ser humano: “Karl era amado por sua família e amigos”. Assino em baixo.

Bom, se um ônibus espacial de seis toneladas não atropelar o avião, voltarei logo para as bandas de cá, a rotina dos bares, dos pesares. Das alegrias, também, da família, do encontro com os leitores deste Canto de Página que às vezes fede, às vezes cheira, mas não ofende ninguém.

3 comentários:

João Ferreira de Lima disse...

Boa Viagem ! amigo Cid e boa sorte e ja estamos com saudades obrigado pela lembrança de seus leitores e amigos e eu como não posso ir aõ meu Apodi querido fico aqui trabalhando em pleno domingo aqui nessa são paulo tão fria de calor Humano UM GRANDE ABRAÇO AMIGO CID E BOA VIAGEM PARA A TERRA DO TIO SAM

Anônimo disse...

Valeu, grande Joao.

Anônimo disse...

Faça uma boa viagem e nos traga uma boa crônica. JCabral