sábado, 12 de dezembro de 2009

P/ Jerônimo Augusto, um beijo tão grande



Engraçado, Jerônimo Augusto assistindo ao DVD “Noites de Gala, Samba na Rua”, no qual Mônica Salmaso interpreta Chico Buarque, acompanhada do grupo Pau Brasil. Sim, porque o cabrito só tem um ano e três meses e fica ali, paradão, especialmente nas faixas “Ciranda da bailarina” e “O velho Francisco”, como se fosse gente grande. Tem mais: ninguém ouse atrapalhá-lo naquele instante de deleite musical.

Todo dia, como se saltasse dos versos de “Cotidiano”, ele faz tudo sempre igual, embioca no quarto e me sacode às seis horas da manhã, ao meio-dia e às seis da tarde, aperta que aperta os botões do controle remoto, faz beicinho, protesta em nenês antigo, língua dificílima para os adultos normais, que eu, com modesta insanidade, domino sem problemas. Se o tudo não bastar, a mãe entra em cena e liquida a fatura.

Passava das 14 horas, quando cheguei ao apartamento na última terça-feira. Comi o de sempre, um bife de peito de frango, duas colheres de cuscuz, duas de arroz, quatro de feijão, e despenquei nos braços da santa sesta. Deu para perceber, “alguém” me seguia desde a cozinha, tentei dissimular, não funcionou, reagi então dizendo com firmeza: “Hoje não tem historinha de Mônica Salmaso, vou assistir ao jornal”.

Liguei a TV e, hum, quem estava lá? A dita cuja anunciando presença no projeto Nação Potiguar, em Natal, por volta das 19h30, após Diogo Guanabara e Macaxeira Jazz. Agarrei a mulher pelo braço, dei cangapé no moleque, deixando-o com uma tia, afinal a idade ainda não o habilita a extravagâncias, e metemos os pés na BR-304, mesmo sem qualquer sinal de onde e de que modo conseguiríamos os ingressos.

A entrada era franca. Havia, contudo, a necessidade de retirar os tíquetes numa empresa da capital. Ao fim e ao cabo, deu certo, graças às interferências de Luciano Lellys, nosso repórter fotográfico, e de Jô Lopes, colaboradora do O Mossoroense. Valeu a pena o risco, o feitiço, o sacrifício, a viagem repentina, o cansaço, as dores, a nota ruim na prova da quinta-feira, pois a alma, um dia apequenada, fez-se enorme.

Minha gordinha e eu descobrimos Mônica Salmaso quando assistíamos ao documentário “Vinicius”, num cinema natalense. Nesse filme, dirigido por Miguel Faria Júnior, a moça interpreta a música “Canto Triste”, de autoria do homenageado, o poeta Vinicius de Moraes. Algum tempo depois, ela apareceu para alegria e graça dos nossos ouvidos, entoando a canção “Imagina”, no CD “Carioca”, de Chico Buarque.

O galego a descobriu na barriga da mãe, se não mentem os pediatras ao jurarem de pés juntos, mãos postas e olhos rútilos que os bebês ouvem tudo a partir de determinada fase da gestação, destacando o efeito calmante da musica. Não teve o privilégio de aplaudi-la pessoalmente, ao nosso lado, mas ganhou um CD autografado pela cantora, com dedicatória exclusiva: “P/ Jerônimo Augusto, um beijo tão grande”.

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