sábado, 5 de dezembro de 2009

Metáforas da saudade



Antes de compreender a geografia do semiárido, na qual se encaixa Mossoró, o sertão para mim se resumia ao Junco. Naquele município, oficialmente chamado Messias Targino, hospedava-me na fazenda Salobro, pertencente a Seu Genuíno e Dona Basílica, ambos de saudosa memória, conduzido por Tasso e Elizenir, genro e filha do casal, pais de meus primos Frediano e Gregório.

Água friinha do pote para o caneco de alumínio e do caneco de alumínio para a boca, coalhada, leite no curral, cavalos, cercas de pedra, banhos de açude, casas e juazeiros mal-assombrados, vaqueiros destemidos, as presepadas de Moió, Pompeu e Janúncio, a vaca de bezerro novo que me fez arrancar a unha do dedão do pé esquerdo numa carreira desatada pelo medo, a moça bonita.

Os Jales são numerosos e acolhedores. As residências, na cidade e no campo, estavam sempre cheias, especialmente nas férias e feriadões, quando parentes que moravam em outros lugares voltavam ao aconchego do lar, fortalecendo os laços e as tradições. Nós, crianças, fazíamos a maior algazarra. Fosse seca, fosse inverno, brincávamos desde o cantar do galo aos templos de Morfeu.

Rememoro tantos momentos alegres, a partir de uma notícia que me partiu o coração: a morte da professora Elza Jales Diniz, em desastre ocorrido no último dia 1º, na RN-117, entre as cidades de Governador Dix-sept Rosado e Caraúbas. Figura boníssima, alegre, cordial, sempre disposta a ajudar o próximo, exemplo de dedicação ao magistério e à terra natal, além de querida por todos.

Não tive contato com ela nos últimos anos. Sabia do Junco e de sua humanidade graças aos relatos feitos por Hédimo Jales, o intrépido Capitão Caverna, mas o bem-querer nunca se perde na distância nem se curva aos caprichos do tempo. Assim, em nome da velha admiração, dedico a Elza e seus familiares, as boas lembranças colecionadas nesta crônica, como metáforas da saudade.

2 comentários:

Juliana Jales disse...

Cid,

Estamos todos muito tristes com a perda de uma pessoa querida como tia Elza.
Em nome de toda a família agredeço o seu carinho.

Juliana Jales

Canto de Página disse...

Oi, Juliana.

Não há o que agradecer. Elza merece todas as homenagens.

Cid