sábado, 18 de setembro de 2010
Meio século
O vate Genildo Costa festejou 50 anos na última sexta-feira, com rega-bofe para os camaradas. Aquela cachacinha paraibana, o camarão pescado em Grossos especialmente para o evento, o violão afinado em ré. Cantou, chorou, recitou versos, distribuiu numa das paredes do terraço fotografias arrancadas do fe-o-fó do baú, imagens do tempo em que nasceu o grupo Poema, movimento responsável por fase deveras interessante da cultura mossoroense.
Naquela época, cometíamos sonetos de pé-quebrado, brincando de ser poeta. Saíamos de bar em bar fazendo a Arte Intrusa, ideia de Rogério Dias, desafinando o coro dos contentes (“lat’s play that”), roubando aqui as palavras de Torquato Neto. Parávamos o trânsito no “Sinal de Poesia”, interferência amarelinha de Laércio Eugênio. Batíamos as feiras livres do Estado na Camelagem Cultural, liderados pelo nosso eterno presidente Caio César Muniz.
Costinha possuía sete fios de cabelo a mais encurtando alguns micrômetros a careca reluzente e dava trabalho a dona Irene, a primeira dama, com nossas farras literárias. Levou-nos certa feita, a mim e a outro companheiro, ao único prostíbulo do mundo onde não há mulheres, ali para as bandas do conjunto Abolição IV. Questionado sobre essa curiosa circunstância, respondeu sem pestanejar: “Claro que não tem, porque não traio minha esposa”.
Desenterrou além das lembranças, a coleção de vinis: Chico, Tom, Rita, Gil, Caetano, Belchior, Zé Geraldo, Zé Ramalho. Bolachões “cheirando a guardado de tanto esperar”, mas em perfeita harmonia com o ambiente saudosista. Ouviram-se várias faixas de vários LPs. A hiperatividade do proprietário nunca o deixou, e não o deixaria agora, ouvir o disco inteiro. O chiadinho nas caixas de som, os saltos da agulha. Qual, entre os novos, terá esse privilégio?
Noite de parceiros, apesar das faltas sem abono. Noite boa. Noite Curta. Poucos dentre nós, tomados de calvície ou de cabelos brancos, quando não atingidos pelas duas coisas, preserva os hábitos noturnos. Noite do vaqueiro dos bois-bumbás que avistou Virgílio escrevendo a saga de um amor profano. Noite do meio século de Genildo, poeta em letra e música, coração de gigante, ótimo caráter, sonhador dos sonhadores, a quem desejo vida longa.
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