sábado, 20 de abril de 2013

Livros



Casa das Lâmpadas, de David Leite, e Futebol de Mossoró, de Lupercio Luiz, chegam-me praticamente ao mesmo tempo, ambos com a elevada qualidade gráfica que caracteriza as publicações da Sarau das Letras, editora capitaneada pelo escritor Clauder Arcanjo.

Faz poucos dias, no mesmo patamar estético, veio-me Gênese, de Leonam Cunha, jovem poeta de Areia Branca que descobri ser filho do meu amigo Manoel Cunha Neto, o Souza, mas não antes de lê-lo, de maneira que não se contaminou o juízo.

Cada qual me conta um punhado de histórias, personagens, lugares, imagens. A prosa e o verso a serviço da memória e da imaginação.

As lâmpadas da casa de David Leite abrem-me portas antigas e iluminam o caminho para reencontrar pessoas queridas, a exemplo de Marieta Lima, Raibrito, João Batista Cascudo, Vingt-un Rosado, Dorian Jorge Freire. Se não falasse dos frades carmelitas, não seria dele o trabalho. E fala muito bem, com a propriedade de sempre. Há, entre fatos e gentes, fragmentos dos anos 1980, maravilha para nós, criaturas do século passado.

Para um sedentário convicto e militante da minha espécie, tudo é novidade no Futebol de Mossoró, seja história pequena ou grande. Descobri, graças a Lupercio, filho de Luiz Bolão e Maria Neuza, que a primeira bola chegou a Mossoró em 1917, trazida do Rio de Janeiro por José Fernandes de Queiroz. Humaitá e Ypiranga, os primeiros times. O jogo Flamengo x Baraúnas, em 1985, por incrível que pareça, assisti bem de pertinho, na lateral do gramado. Ainda não encontrei o gol que Etevaldo fez de cabeça após bater o escanteio. Pode estar adiante.

A gênese da poesia de Leonam Cunha é tanta coisa, tanto de imagem,  que se pode começar de qualquer parte. Da ginga com tapioca, do torto e do moderno, do ornitorrinco. Quem sabe do princípio, num hino a Epicuro e sua busca filosófica por felicidade e prazer. É para ser lido com calma, em doses, afinal o poeta, garante ele, não vai sair por aí. Aguarda paciente que as metáforas se esparramem no papel. Evoé!

Três autores de estilos e ao menos duas gerações diferentes, três maneiras de enxergar o mundo, três experiências literárias dignas, que Clauder Arcanjo escalou para o time da Sarau das Letras.

E agora, com licença que vou continuar a leitura, aproveitando a inspiração da chuva.

domingo, 14 de abril de 2013

DESCULPA DE BÊBEDO

Augusto Floriano

Boêmio, criatura infeliz!
Carrega no peito vulcão
que até cochila,
mas sempre acorda.
E quando acorda,
jorra poesia e loucura
para iluminar a noite
enquanto a mulher amada
carrega nos ombros,
entre sono e vigília,
a longa espera do amanhecer.