terça-feira, 24 de maio de 2022

Não tenho nexo nem título

 Bárbara,

lembrei-me agora do poeta, cronista, músico e jornalista Antônio Maria, que teve o disparate de compor aquela música horrorosa “ninguém me ama/ ninguém me quer/ ninguém de chama/ de meu amor”.

De lascar!

Puta merda!

Valei-me, Nossa Senhora.!

Bangalô três vezes!

Deus é maior!

Se bem que o cara tomou a mulher de Samuel Wainer, dono do Última Hora, jornal importante da época.

Quando me olho no espelho, as banhas rompendo os umbrais da calça, testa sebenta de gordura, só me lembro do velho Maria, meu cronista predileto.

Deveria lembrar de Eneida, sempre nua. Livre!

Tivesse ao menos o talento dele, mas não.

Um troço, uma dor de cotovelo infernal – volto ao debate sobre a música –, mas o cara era sensacional. Leiam “Diário de Antônio Maria” e “Benditas Sejam as Moças” para conferir. Obrigatório.

Dia qualquer, entrevista de emprego nos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, seu conterrâneo do Pernambuco, Chatô, o Rei do Brasil, propôs o teste:

- Escreva sobre Jesus Cristo!

Maria, sem tomar fôlego, respondeu interrogativamente:

- Contra ou a favor?

Foi contratado sem a necessidade de escrever linha sequer.

Quem diabos argumentaria contra Jesus Cristo? Nem eu, ateu, graças a Deus, faria isso em circunstâncias cotidianas.

De vez em quando, convenhamos, até o cristão mais devoto pragueja contra a divindade. Faz parte.

Mas a vida – quem sabe a profissão – coloca o sujeito em circunstâncias desconcertantes que desafiam princípios.

Agora, por exemplo, aparece o diabo de um trabalho de faculdade. Tema desagradável, vago – Porra de pandemia!

E a educação nisso?

Permanecerá como antes ou a experiência dramática valeu necas de pitibiriba?

 Saltamos de 2019 para não sei quando ou qualquer dia a gente pousa na realidade?

Vou tomar dois ou três goles uísques para espantar a insônia e mergulhar nas dúvidas.

Respostas nunca me importaram.

Só delírios me conquistam.

Os seus.

"Desesperada e nua", como disse Chico a seu respeito.