sábado, 3 de julho de 2010
Profilaxia
Mastigo um punhado de palavras por vez, tentando encontrar sabor menos amargo nas construções verbais. Não devo vomitar orações unidas pela saliva grossa de ontem à noite, embora o desejo seja tanto e me consuma desde quando. É difícil, certas vezes, o sujeito conter a própria voz, ficar quieto, policiar-se para não botar a alma a negócio nas mãos do diabo, por momentos fugazes nos braços das fúrias.
Megera, mãe do ciúme, da inveja, do rancor, perseguidora implacável, eterna memória das fraquezas. Tisífone, marcando a loucura no compasso do chicote. Alecto, que alimenta as maldições no prato da soberba e rouba o sono dos incautos com as tochas do desassossego. São filhas da vingança, essas fúrias, existem desde antes de o mundo ser mundo, e perdem o homem mais que as ilhas de Drummond.
Também não cuspo. O azedo. Pedra. Espinho. Trituro. Engulo. Calado. Desce. Volta. Atravessa. Rumino. Truncado. Seco. Boca. Garganta. Estômago. Estômago. Garganta. Boca. Por enquanto? Para sempre? Sei lá! O tinhoso não sabe. Deus não sabe. O padre! Sim, o padre! O cão sabe! Ou imagina? Infeliz. Insípido. Inodoro. Indigesto. Filho da... Epa! Ponto. Pronto. Xapralá. Pronto. Ponto. Pronto... Ponto.
Sábio não se deixa seduzir por tais beldades. Sábio não vai às ilhas. A tentação pode ser grande, enorme, gigantesca, mas ele espera, porque conhece as voltas do mundo. Iazul. O idiota relincha palavras de ordem, mete as patas sujas pelas mãos e lança coices de ofício, ao som das ventosidades anais que lhe escapam em semitons. Não sabe, coitado, que as cobras morrem por excesso de confiança no veneno.
Perdoe-me, estimado leitor, pelos desarranjos no estilo, nesta viagem nas asas libertinas dos delírios. Tenho me contido para não escarrar na cara de fantasmas sem formação óssea, cartilaginosa ou moral que você desconhece, por sorte e saúde mental. E isso, para o ora pretendido, é desnecessário. Basta que os fonemas penetrem o juízo certo, na dose exata, para surtirem os efeitos profiláticos desejados.
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