O senador
Rogério Marinho exigiu o afastamento de Eduardo Bueno do Conselho Editorial do
Senado, porque o historiador, nas próprias redes sociais, ironizou a morte do extremista
americano Charlie Kirk. Jamais, entretanto, condenou Jair Bolsonaro por zombar
do sofrimento das vítimas da pandemia e do luto de milhares de famílias.
O presidente Lula
repudiou a perseguição do MPF ao jornalista Glenn Greenwald, que desmascarou a
nefasta operação Lava-Jato. Em 2004, contudo, mandou suspender o visto de Larry
Rohter, correspondente do The New York Times, por haver escrito
reportagem citando suposto abuso de bebidas alcoólicas por parte dele.
Logo após
acusar o governo brasileiro de censura contra as big techs, pela
pretensão de regulamentá-las, e de seus porta-vozes ameaçarem intervir no
Brasil para assegurar a livre manifestação do pensamento, o babaca do Trump – a
propósito, meu visto está vencido – ameaçou cassar licenças de TVs “adversárias”.
Bolsonaro, registra-se,
fez o mesmo na presidência, ao dizer que não renovaria a concessão da Globo, em
retaliação a reportagens “desfavoráveis”. Ele também atacou a imprensa
profissional e adversários com o auxílio do Gabinete do Ódio. Agora, reclama de
censura, silenciado por Alexandre de Moraes como Lula o foi por Luiz Fux.
Falando nessa
relação de afeto, a extrema direita pirou quando o supremo ministro determinou
o bloqueio do X – de Xandão? –, por desrespeito sistemático a ordens judiciais,
mediante deliberação expressa do dono da rede, Elon Musk. Nem um “Stop,
please!”, diante do banimento do TikTok dos EUA por violação a normas
nacionais.
Com todos os
defeitos do seu governo, José Sarney atravessou o mandato de presidente sem
histórico de perseguição à mídia, mas, cedendo a “sentimentos religiosos”, proibiu
o filme Je Vous Salue, Marie – Eu Vos Saúdo, Maria –, alegando proteger
valores da cristandade, embora vivamos em um País laico.
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Ilustração criada pelo Gemini |
O Supremo Tribunal Federal, por sua vez, tem sido essencial na proteção da democracia, inclusive ao fixar que a Constituição não protege manifestações de ódio, de ataque à honra e que representem crime. Peca, todavia, ao censurar reportagens e críticas aos seus próprios ministros.
Por último, embora
como reflexo do primeiro exemplo, a escritora Paula Taitelbaum, esposa de Eduardo
Bueno, foi excluída da 40ª Feira do Livro de Canoas/RS, por causa do comentário
do marido sobre Charlie Kirk. Imagina! Um evento criado para celebrar a
diversidade sucumbindo aos caprichos do mandatário de plantão. Que vergonha!
Quem teve
paciência para chegar aqui deve estar se perguntando o que eu quero dizer com
tudo isso? Na verdade, já disse pelos exemplos, bem como em 2014, na crônica
“Espiral do Silêncio”, a partir do episódio em que o linguista Noam Chomsky
defendeu a publicação de um livro, mesmo discordando das ideais nele escritas.
Atacado pelo
posicionamento, Chomsky respondeu: “[...] a liberdade de expressão (incluindo a
liberdade acadêmica) não deve ser restrita a visões que alguém aprova, e que é
precisamente no caso de visões que são quase universalmente desprezadas e
condenadas é que esse direito deve ser mais vigorosamente defendido”.
Ou seja,
liberdade de expressão é semente rara que só germina, dá flores e gera frutos
no terreno instável de ideais em conflito. É fácil advogar por ditos e escritos
alinhados ao nosso ponto de vista. Difícil é respeitar quando um anjo torto,
daqueles de Torquato Neto, chega para “desafinar o coro dos contentes”.
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