Minha solidariedade aos amantes filmados na varanda do Teatro Dix-huit Rosado, em plena e benfazeja antropofagia cultural, e expostos nas redes antissociais. A mulher, dizem, com maior veemência, realçando a evolução da mentalidade do povo que se gaba de haver alistado a primeira eleitora brasileira.
Sem querer defendê-los, suponho que se imaginavam ocultados pelos tapumes que embelezam o Corredor Cultural da Rio Branco, desprovidos da vontade de ultrajar o pudor de quem publicizou a cena, insensível ao amor improrrogável, ao amor de improviso, que não sabe, não faz hora, mas teima acontecer.
Quiçá enredados por Nelson Rodrigues, percebiam-se invisíveis em “uma selva de epilépticos”; ou desejavam aplicar a tese de Jabor segundo a qual “o sexo sonha com proibições”. Para rompê-las, é claro. Talvez tenham se tornado valencianos: “cão vagabundo” e “onça-pintada” gozando metáfora na realidade.
Alguém dirá que esta crônica de meia pataca exorta a imoralidade, o pecado capital da luxúria e até o crime. Não se trata disso, e sim de expressar a sensação de que a imprudência peculiar dos amadores, se ofende alguém, ofende bem menos que a malícia do voyeur que grava e faz circular cenas de tal ordem.
É, “o Grande Irmão está de olho em você”. Há câmeras por todo lado, em todas as mãos, a serviço do público e do privado. George Orwell teria noção de que o seu Big Brother romperia os limites de Oceânia para dominar o mundo? Seria a realidade, depois de 1984, uma refração vulgar de lentes desfocadas?
Na falta de respostas, só posso dizer que transar em tempos
de guerra soa como anúncio de paz, não desaforo, apesar do exibicionismo dos
enamorados e da psicose dos espectadores. Além disso, qualquer praça tem quatro
paredes quando o amor é urgente. E, se for a do teatro, sexo é pura expressão da
arte.
5 comentários:
Cid Augusto, seus textos são de uma sensibilidade epidérmica. Te admiro demais meu irmão. Você é o cara.
Sensacional, meu irmão!
Parabéns, meu irmão. Excelente texto.
Não diferente do habitual: excelente!
Sempre genial com as palavras! O poeta tem sempre razão!
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