Periodicamente, a política impõe a ditadura das cores. Nos Estados Unidos, o azul de Joe Biden triunfou sobre o vermelho de Donald Trump, espalhando-se pelo mapa americano como se fosse um tabuleiro de War, afinal, na definição de Carlos Brickmann, “a política é uma das mais cruéis modalidades de guerra”.
A situação se complica no interior do Brasil, pois o ato de se vestir com roupas de determinado matiz pode parecer declaração de apoio a candidato “A” ou “B”, motivo de simpatias e hostilidades. Quanto menor o lugar, maior o pega pra capar entre seguidores das candidaturas que se polarizam lá no topo.
Quem mora em uma cidade e trabalha em outra precisa ter cautela para evitar ruídos de informação, em especial se o patrão mistura negócios e militância. Isso porque, diferentemente do sistema binário dos EUA, a mesma cor pode ser utilizada por segmentos partidários diferentes em municípios vizinhos.
Contam que no “País de Mossoró”, aqui no caloroso sertão do Rio Grande do Norte, quando apenas o verde e o encarnado se engalfinhavam pelo poder, um juiz de fora, de origem familiar e simpatia política desconhecidas, foi designado para a comarca e, consequentemente, para presidir as eleições.
Corriam nos anos 1960. Pela liturgia do cargo, o homem só se vestia de paletó escuro e era discreto, até por ser recém-chegado no município de pouco mais de 50 mil habitantes. Era, contudo, observado amiúde pelos partidários da Aliança Renovadora Nacional (Arena) e do Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
Certa feita, o magistrado entrou rapidamente em uma farmácia, no Centro. Mal saiu, um olheiro que o seguia bem de perto, quase pisando no rabo da toga, indagou ao balconista o que diabos ele havia comprado. “Escova de dentes”, respondeu o funcionário, dando brecha para a pergunta fatídica: “De qual cor”?
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