Velhas palavras não enchem o bucho de uma crônica. De
qualquer maneira, revendo-me na fotografia antiga postada no
"Feicibuqui" por Ricardo Lopes, retratista afamado em Oropa, França e
Bahia, comecei a me recordar do tempo em que andava com a barba cheia e dura -
cheia de falha e dura de crescer - recitando poesias nas ruas, nos bares, nos
ônibus.
E aquele encontro, hein? Parece praia, talvez Tibau. É
Tibau. Dois litros de Pitu quase vazios sobre a mesa, às vistas de Telma
Gurgel, Amarildo Lima, Arlete, João Eugênio, Laércio Eugênio, eu, Mazinho Viana,
Tércio Pereira, Lucas, Rapozinha e o próprio Ricardo Lopes, além da criatura por
trás da máquina fotográfica.
Faz 14 anos, conforme cálculos do artista plástico, ufólogo
e poeta Laércio Eugênio, presidente perpétuo do Instituto Intergalático de
Recuperação de Pessoas Normais, entidade que fundamos mais ou menos na época,
em meio às obras do campo de pouso para discos voadores que o referido
calculista construiu na laje de casa.
Requentando o verbo e os fatos, percebi o acréscimo de uns
10 quilos de gordura e 20 centímetros de
circunferência abdominal de lá para cá, depois que um observador indiscreto afirmou,
para delírio da redação do jornal O Mossoroense, "Vixe, Cid era magro!".
Sem problema, pois, conforme o jornalista e publicitário Stenio Urbano, que parece
um sebite, homem sem barriga é homem sem história.
Sou a favor de repetirmos o encontro, a pose, o bate-papo. E
até a Pitu, desde que suavizada com limão, refrigerante... Eta, diacho, tô todo
arrepiado!
Precisaremos fazer adaptações. Arlete, por exemplo, não
aguentará mais João Eugênio no colo, pois o cabra, então com um ano de idade, está
maior do que todos os envolvidos no episódio.
Por favor, levem o violão para Mazinho, orgulho da música nordestina,
parceiro de Regina Casa Forte; e um gorro diferente para Ricardo Lopes. O
azul-bebê saiu de moda após longos oito anos de perseguição contra veículos e
profissionais de comunicação que não aceitaram lhes mostrar o fundo das calças.
Há 14 anos, muito provavelmente em janeiro, ainda não se
pensava na compra de terras à margem esquerda da Gangorra, na expectativa da
duplicação da estrada decuplicar o valor do patrimônio. A galera, mesmo assim,
não tinha enfado em vencer os buracos do caminho estreito, sem acostamento e
mal sinalizado para encher as vistas com o mar de Tibau.
Ainda havia morros de areias coloridas. Poucos, é verdade,
mas havia, entre eles o das sete cores.
O labirinto onde os namorados se perdiam, os pingas, as
vertentes, a Pedra da Sereia, as jangadas, as aventuras de Jeremias, Ananias,
Tidó, o peixe fresco no balaio, tudo a que o tempo deu a dimensão onírica da
casa do avô de Manuel Bandeira.
A Pedra do Ceará, penetrando o oceano com seu falo argiloso nas
marés cheias, ostentava certa virilidade.
Eu, impregnado de juventude, escrevia sem dar por métrica,
rima, estética, amava despreocupadamente na areia da praia e vencia quixotescas
batalhas contra moinhos de vento.
Quanta saudade na memória de uma fotografia.
Manda outra, Ricardo Lopes, que é pra gente lembrar. E sonhar.
Um comentário:
Parabéns pelo texto. Lendo dá uma vontade doida de voltar no tempo e viver esse passado, que infelizmente não volta nunca mais.
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