Quedei-me. Ao lado, outro corpo despido,
ofegante, arrepiado. Havíamos perdido a extensão da cama e nos encontrávamos
rasos, à flor do chão onde dançaram nossos pés descalços previamente à conexão
dos suspiros e dos ais.
O sorriso de depois denuncia o reencontro. Há
dias não mergulhava nas profundezas de um orgasmo e nem imaginava tal bênção naquela
madrugada, depois de tantos guardanapos preenchidos com bobagens.
“Hoje eu só queria”, escrevi num deles, “uma
mulher linda que sentasse ao meu lado e dividisse este uísque. Nem precisaria
fazer sexo – hoje não! –, apenas me dizer meia dúzia de mentiras de alcova para
lubrificar as válvulas enferrujadas do peito. Uma mulher de Sol e Lua que me
pegasse pela mão e me reapresentasse aos caminhos da poesia”.
Milagres acontecem e aqui estou contemplando
a imensidão da natureza nua, depois de dividir o copo, a cama, o guarda-roupa,
a cômoda sob a TV, depois de nos duplicarmos no espelho que verticaliza a
parede, depois de reinventarmos a lira. Depois! Depois!
Quando amanhecer, longe das terras onde todos
os gatos são pardos, não mais existiremos além das lembranças. Tudo passa.
Vou-me embora enquanto a cidade dorme alheia
ao acidente, ao choque entre as carnes em brasa, à ioga tântrica, ao jogo
mortal do gozo, la petite mort.
Levarei na memória o sabor dos gemidos e o
cheiro de naftalina. E isso me basta, posto que o coração se fechou para
balanço.
Saravá!
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