sábado, 11 de agosto de 2012

Vou-me embora


Quedei-me. Ao lado, outro corpo despido, ofegante, arrepiado. Havíamos perdido a extensão da cama e nos encontrávamos rasos, à flor do chão onde dançaram nossos pés descalços previamente à conexão dos suspiros e dos ais.

O sorriso de depois denuncia o reencontro. Há dias não mergulhava nas profundezas de um orgasmo e nem imaginava tal bênção naquela madrugada, depois de tantos guardanapos preenchidos com bobagens.

“Hoje eu só queria”, escrevi num deles, “uma mulher linda que sentasse ao meu lado e dividisse este uísque. Nem precisaria fazer sexo – hoje não! –, apenas me dizer meia dúzia de mentiras de alcova para lubrificar as válvulas enferrujadas do peito. Uma mulher de Sol e Lua que me pegasse pela mão e me reapresentasse aos caminhos da poesia”.

Milagres acontecem e aqui estou contemplando a imensidão da natureza nua, depois de dividir o copo, a cama, o guarda-roupa, a cômoda sob a TV, depois de nos duplicarmos no espelho que verticaliza a parede, depois de reinventarmos a lira. Depois! Depois!

Quando amanhecer, longe das terras onde todos os gatos são pardos, não mais existiremos além das lembranças. Tudo passa.

Vou-me embora enquanto a cidade dorme alheia ao acidente, ao choque entre as carnes em brasa, à ioga tântrica, ao jogo mortal do gozo, la petite mort.

Levarei na memória o sabor dos gemidos e o cheiro de naftalina. E isso me basta, posto que o coração se fechou para balanço.

Saravá!

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