sábado, 5 de junho de 2010

Embaixador do Brasil no além



Vi no O Mossoroense velho de guerra, com estes olhos que a ressaca há de comer, que o presidente Lula, com a devida chancela do Congresso Nacional, promoverá Vinicius de Moraes a ministro de primeira classe do Itamaraty. O cargo, diz O Globo, é o mais alto da carreira diplomática brasileira, honraria que, aqui para nós, torna-se um nada ante a obra que consagra e eterniza a figura do poeta.

Não se trata de homenagem post mortem, mas de autorreabilitação do governo. Lula conserta mais um erro do Regime Militar, que, embora morto e sepultado, ainda inspira a nação azul-bebê na Terra de Santa Luzia. Demitiram-no sumariamente do Ministério das Relações Exteriores, baseados no tenebroso AI-5. Saiu com uma mão na frente, outra atrás e arapongas a la Vuco-Vuco de todo lado.

A reabilitação – a do Estado, repito – ocorre 30 anos depois da partida do homem que passou por esta vida e viveu, que ousou lançar um “poema inocente sobre o rio venéreo engolindo as cidades” e que perguntava, na Hora Íntima: “Quem, bêbedo, chorará em voz alta/ De não me ter trazido nada?”. Tarde? Que é isso! Para um versejador que de manhã escurece e à noite arde, o tempo “é quando”.

Gostei do gesto e estou com Marcelo Dantas: “Quaisquer que sejam as motivações do atual governo em promover tão tardia redenção, o Brasil agradece”. Se o homenageado gostaria, aí são outras. Lembro-me, com receio de estar sendo vítima de uma sacanagem da memória, de haver lido que o poetinha pediu reintegração à carreira diplomática após a anistia e, assim que o reconduziram, demitiu-se.

Peraê! A redação foi invadida. Virgulino? Jararaca? Chico Preto? Virgem Santa! Túlio Ratto e Jacson Damasceno tangendo um “cachorro engarrafado” na Escócia. Querem festejar no Cidade Junina, apesar dos riscos de chover bala, os 12 anos desse animalzinho que Karl Leite enviou de Natal, bem como a nomeação de Vinicius de Moraes ao posto de embaixador do Brasil no além. Saravá!

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