sábado, 18 de julho de 2009
Penetrando nas bichas
Cobrança de estacionamento em shopping center é sempre motivo de polêmica, pelo menos no início. Acontece no Brasil inteiro e não seria diferente em Mossoró, onde os gestores do condomínio de lojas, para piorar, resolveram exigir dinheiro também aos funcionários. Além disso, a prefeitura recusa-se a explicar a doação do terreno e a suposta isenção de impostos para atrair os empreendedores.
Questão semelhante, exceto pelas suspeitas levantadas aqui, rendeu incontáveis páginas na imprensa natalense - sites e blogs sequer existiam. O problema gerou ainda discursos inflamados na Câmara de Vereadores e, se me é fiel a velha memória, ação judicial para proibir a tarifa. Adiantou nada, pois a exploração comercial de estacionamentos é negócio como outro qualquer, cria emprego e gera impostos.
A Assembleia Legislativa do Paraná chegou a aprovar projeto liberando do pagamento, consumidores que comprassem acima de determinado valor. Terá sido sancionada? Estará em vigor? A Câmara dos Deputados, por sua vez, avalia proposta que “dispõe sobre a gratuidade em estacionamentos de shopping centers, hipermercados e congêneres”. Trata-se de nova tentativa sem maiores possibilidades.
Por enquanto, resta aos inconformados a retirada ou o lado de fora, nos lugares onde isso é permitido. Aqui, o exército amarelo do governo azul não quer que as pessoas deixem os carros delas na lateral do Mossoró West Shopping. Afirma que o Código Brasileiro de Trânsito proíbe estacionar em acostamentos. Infração de gravidade mediana, punida com multa e com aquele reboque de 70 contos.
Leigo, leigo, leigo, como diria o filósofo barroco Luciano Lellys, não me atreveria a questionar o comportamento da autoridade, mas imagino que a proibição somente se justificaria pela colocação arbitrária de sinais específicos de trânsito. Tal medida, aliás, seria exagero num trecho praticamente morto da rua que carrega o nome do grande jornalista, xilógrafo e artista João da Escóssia Nogueira.
E mais: se proibirem ali, onde há espaço de sobra, terão de estender a providência ao restante da via, entre as terras da extinta fazenda São João e a rua Juvenal Lamartine, depois do cemitério São Sebastião. Tudo é João da Escóssia, embora da BR-304 ao Centro lhe falte acostamento. Ótima iniciativa para alimentar a indústria da multa prestes a nascer a título de incremento do nosso tesouro.
Você deve estar pensando que sou desfavorável à taxa de estacionamento do Mossoró West Shopping. Critico, sem meias palavras, a extorsão contra os funcionários das lojas ali abrigadas e confio nas providências do Ministério Público do Trabalho. De minha parte, pago os R$ 2,00 sem drama, contente da vida por não ser necessário disputar vaga nem ouvir desaforos dos flanelinhas da praça da catedral.
O único problema são as filas para entrar e sair. Odeio filas. Tive a infelicidade de ex-ternar esse sentimento ao vigia da cancela, após 30 minutos de castigo, com a mulher e três crianças dentro do carro, uma delas com apenas 10 meses. “Então é melhor o senhor não voltar, porque vai ser sempre assim”, disse-me o rapazola e, ao que parece, muita gente o ouviu e, pior, seguiu o bom conselho.
Fila é coisa do satanás, do demo, do tinhoso, do coisa ruim. Na perspectiva delas, prefiro muitas vezes ficar em casa, babando pelas gostosas da novela das oito. Há quem se acostume com chifre, asma e reumatismo. Há quem se habitue a chulé, mau hálito e so-vaqueira. Há quem se acostume a receber tratamento igual ao que me deram. Fila? Ninguém merece! Antes a boa morte! Vade retro! Eca!
Lembrei-me agora, nas últimas das últimas, que fila em Portugal significa bicha, e vice-versa. Persistissem os ares coloniais na Terra de Santa Luzia, deveríamos, civilizadamente, esquecer as filas e penetrar nos rabos daquelas bichas enormes de acesso ao afamado estacionamento. E pagando por isso com satisfação orgasmática. Ora, pois, em tempo de padronização linguística, tudo é possível.
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8 comentários:
Grande Cid, a situação está realmente insuportável, apesar de frequentar muito pouco esse ambiente. Confesso que também segui as recomendações do rapaz. Por ali não passarei.
Abraço... Nikolay Kiev
Eu continuo frequentado... e reclamando! Hahahaha
Cid
parada da fila ou parada da bicha ?
Da bich... ops, da fila! Ou será da bicha mesmo? Sei lá, pode escolher.
Cid
Cid,
Entre os sorrisos e satisfação, leio esse texto maravilhando-me da capacidade de observação e construção que chega a dar aos fatos narrados um aspecto de invenção!
Esse tal "país de Mossoró"!
Abraços,
Prof. Charles Bronson
IFRN
Realmente, professor, no País de Mossoró ocorrem coisas das quais até Deus duvida.
Cid
Quando vou ao shopping, por pressão dos meus pimpolhos, procuro ir, em horários mais vagos. Já para evitar o estresse das filas.
giancarlo castro
funcionário público
Estou fazendo do mesmo jeito, Giancarlo. Mas, ao que parece, as coisas melhoraram.
Cid
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