sábado, 4 de setembro de 2010

A metrópole de Premier e Second



Passei dias de ansiedade, senti até embrulhos no estômago, até receber a Veja com a badalada presença do País de Mossoró. Domingo cedinho, dei plantão na portaria do prédio onde moro e, enquanto esperava o distribuidor, não conseguia tirar da cabeça a frase de marqueteiros europeus criada para a prefeita repetir ao final de seus discursos: “Mooossoróó, boom de trabalhaaar, melhor de vivê”.

Recebi a revista, sapequei os olhos na página indicada, murchei. O textículo posterior aos investimentos feitos na Editora Abril com nosso rico dinheirinho, sem mencionar a aquisição dos exemplares para o programa “Bolsa-Veja”, traz indicadores falsos, omissões convenientes ao oba-oba e erros históricos ridículos. Balde de água gelada no juízo do cidadão apaixonado pela Terra da Liberdade.

Se a ideia era atenuar a atmosfera desfavorável aos ocupantes do Palácio da Resistência, que amargam desaprovação recorde, a estratégia falhou e dificilmente redundará em dividendos eleitorais para os aliados. Isso porque pessoa alguma dará crença a tais presságios, nem aquelas que receberam a Veja com a página 110 destacada por uma fitinha azul-bebê e o cartão subscrito pela burgomestra.

Quem passa por aqui com relativa frequência sabe que a rede de saneamento básico atende menos de metade da “metrópole do futuro” também conhecida como “Cidade sem Presente”, na genial denominação da jornalista Ana Paula Cadengue. Tascaram 85% na matéria. Engraçado que, no dia seguinte, um gerente municipal desavisado falou em cerca de 50%. A Caern bate o martelo em 40%.

A “programação intensa” do Teatro Dix-huit Rosado é outro ponto controvertido, mas o pior é o que não se diz sobre o “Leão do Nordeste” e sua “população ávida por cultura”, em especial o enfraquecimento dos outrora grandes espetáculos. Auto da Liberdade, Chuva de Bala, Oratório de Santa Luzia amofinam pela redução de investimentos públicos. Sim, o museu! Fechado há quanto tempo?

“Há dez anos”, diz a peça jornalístico-ficcional, “lá não havia edifícios com mais de três andares”. A sede do Banco Mossoró, construída há décadas no Centro, tem cinco fora o térreo. Igual dimensão, pertinho dali, existe o Hotel Imperial, construção de 1990. No Alto de São Manoel, também dos anos 1990, localiza-se o Sabino Palace, de quatro andares. Prédios residenciais, desses nem se fala.

Problemas não há na região do “pós-sal”: favelização, pior sistema de transporte coletivo do Brasil, desemprego, comunidades rurais sem água, áreas urbanas intrafegáveis e às escuras, lixo e esgotos a céu aberto são tudo invenção da imprensa marronzística caluienta. Só na mente dos inimigos do “pogresio”, a candidata ao posto de “cidadona” já é a megalópole dos desacertos “estruturantes”.

Nem tudo é decepção. As referências à prole do avô da prefeita são hilárias. “Jerônimo Rosado batizou todos os filhos homens com seu próprio nome e com o número, em francês da ordem em que nasceram”. E segue: “Seu primogênito se chamou Jerônimo Premier, o segundo Jerônimo Second e por aí foi, até Vingt-un Rosado Maia”. Como diria o vate Laélio Ferreira, “Ai, minha canela!”.

O primogênito dos 21, apenas para constar, chamava-se Jerônimo Rosado Filho. O segundo, morto poucos dias após o nascimento, recebeu a graça de Laurentino Rosado Maia. “Premier” e “Second” – figa, diabo! – não passam de personagens de uma dentre as tantas brincadeiras de mau gosto que a fonte alvejante, talvez membro da gloriosa nação smurf, fez com a ótima equipe da Veja.

Um comentário:

Ícaro disse...

Ainda que se transforme em uma metrópole, não vejo nenhuma vantagem nisso, podemos ver as condições das metrópoles brasileiras: alagamentos, indices altíssimos de criminalidade, prostituição, informalidade, caos no trânsito, e sem falar nas favelas!