sábado, 17 de julho de 2010
"Volta, Canindé!"
Pintou nostalgia. Deve ser o “uisquito gringo”. A terceira dose, feito o conhaque de Drummond, deixa a gente “comovido como o diabo”. Ainda mais assim, sozinho, caneta e guardanapo sobre a mesa. De repente, entre rabisco e outro, que se imaginavam poesia, as letras mal-amanhadas formam um nome nada afeito ao lirismo: Canindé Queiroz, fundador da Gazeta do Oeste, polemista ferino, que marcou época no jornalismo “tupiniquim”, despertando sentimentos de amor e de ódio.
Brigou com muita gente, quase o mundo inteiro. E de peito aberto, sem se esconder na barra da saia do anonimato. Nem eu, menino velho, escapei. Acusou-me de algo engraçado: ser rosalbista. “Tem rosalbista editando o vetusto O Mossoroense”, dizia, irado, porque o jornal não se filiou à campanha dele contra Rosalba Ciarlini. Quando passei no vestibular para o curso de Comunicação Social da UFRN, telefonou-me lamentando o que considerou “rebaixamento de profissional a estudante”.
Fez escola com o famoso estilo arrasa-quarteirão, tanto que, embora não escreva há anos, ainda inspira profissionais e comunicadores leigos, inclusive e estranhamente umas vítimas de seus escritos, nos tempos áureos da coluna “Penso, Logo...”. Isto, Freud explica. Vem daí, na terra de Souza Machado, a incapacidade para se distinguir entre crítica e agressão, bem como a ideia de que jornalista bom é o sujeito escroto que bota para moer, escreve palavrões, desaforos, humilha e ridiculariza.
Na briga com Gustavo Rosado – vixe, parece que foi ontem! –, Canindé banhou de ouro um baú de injúrias, calúnias e difamações. Referências tão descabidas só voltaram a ser feitas ao hoje secretário do Gabinete da Prefeita, em processo judicial recente, quando advogados interrogavam falsários do vuco-vuco. A defesa de Gustavo contra a Gazeta do Oeste coube ao movimento artístico e, creiam-me os jovens, a este jornaleco que o Palácio da Resistência persegue com energia e entusiasmo.
A guerra contra o Colégio Sagrado Coração de Maria (Colégio das Irmãs), sem poupar as freiras, as mães de alunos nem o Papa João Paulo II, a quem desejou penetrações profundas em sete vias e com areia da praia, suscitou debates além das fronteiras do Rio Grande do Norte. E não havia Internet. Carlos Santos, editor da Gazeta, à época, impediu a publicação do texto em que o chefe utilizava cinquenta sinônimos de “homossexual” para designar respeitado sacerdote de nossa paróquia.
Não conseguiu evitar, no entanto, que certo jurista tivesse o lombo – como era mesmo a expressão? – “amaciado com porrete de jucá”. O homem não merecia, asseguro, mas apanhou até o colunista cansar o braço de tanto bater. Ah, voltou-se também contra colega nosso, de redação, estimulando-o a usar cangalha como fardamento de trabalho. Vários professores da Ufersa, além de empresários de dentro e de fora do “condomínio”, sentiram o peso das palavras com as tintas de CQ.
A campanha anti-Rosalba, mencionada no início deste arremedo de crônica, foi das mais cruéis, equiparando-se a episódio de há pouco, tendo por alvo a deputada federal Sandra Rosado. Em ambos os casos, as ofensas são intranscritíveis e atingiram níveis extremos. O contra-ataque da Rosa, pelas vias judiciais, arrasta-se por 15 anos, impondo severas indenizações à Gazeta, sem, contudo, desarticular a estrutura do jornal, que se mantém e cresce graças à competência de Maria Emília.
Esse relato comparado ao estilo dos neopolemistas dá uma saudade! Imagino até realizar a campanha “Volta, Canindé!”, lá no “tuíte”, como estímulo para que o mestre retorne às páginas da “urbe amada de todos nós”. CQ será idolatrado e o porrete de jucá convertido em bastião da democracia. Os únicos problemas, frente aos que se julgam seus discípulos, seriam os fatos de ele ser inteligente e ter coragem para assinar o que escreve. Mesmo assim, valeria a pena: “Volta, Canindé!”.
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8 comentários:
Caro CID, que bom lembrar Canindé Queiroz.. falava até dele mesmo..se não me falha a memória, a coluna dele chegou a ser objeto de estudo em uma universidade de sao paulo.
Joao Cabral
Não sabia desse detalhe, mas as colunas de Canindé, polêmicas à parte, merecem estudo. Na Uern, deveriam ser obrigatórias.
O melhor, contudo, é reencontrar o amigo, mesmo que virtualmente, neste Canto de Página.
Abraço,
Cid
Muito engraçado mesmo o Canindé Queiroz. Mas eu não queria está na pele dele. O jornal Gazeta do Oeste, devido às ações judiciais ficou como aquele programa: Balança, mas não cai.
Cid, aqui na Redação lemos seu artigo. Parabéns, cara. Na verdade, Canindé merece um estudo aprofundado. fez história, apesar de tudo. E hoje muitas pessoas querem 'parecer' um Canindé. Parece, mas não é. É como se escreve: nem tudo que brilha é ouro. Só este seu texto, preciso, analítico, especial. Valeu, velho camarada poeta!
Oi, Everton, obrigado por contribuir com o debate.
Grande Mário, a você também meus agradecimentos, tanto pela leitura quanto pela análise do texto.
Abraços aos dois,
Cid
Grande Cid, concordo com vc! Lembro agora de episódio dos colégio das irmãs, que quando li não acreditei e ainda os "elogios" que ele desferia à uns e outros! Bom tópico #voltacaninde! Forte abraço
Caro primo,
Engraçada coincidência. Daqui de Manaus, onde estou agora, de repente me bateu a vontade de buscar no google algo sobre Canindé Queiroz. Caí muito bem caído no seu texto recém publicado e, como sempre, de agradável leitura.
abraço e sorte sempre!
Igor
Uma das penas mais ferinas que conheci/li. Valeu a lembrança. Abraço. Ângela R Gurgel
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