Devo! Não nego. Um pouco de dinheiro aos
bancos, porque nunca tive intimidade com cifras nem me preocupei com
patrimônio, que não fosse imaterial; e um tanto de atenção a certos amigos,
porque descuidei deles, sem querer, por excesso de trabalho, carência de tempo,
dúzias de problemas.
A primeira espécie de obrigação vai e
vem à espera da tão sonhada Mega-Sena – sem jogar é difícil, já me disseram. A
segunda, começo a saldar pela mais antiga, a falta com o poeta Joselito dos
Santos, cujo livro aguardava comentário, na caixa de entrada do e-mail, desde o
distante setembro de 2015.
De vergonha, parei de responder às
mensagens dele, inclusive a última onde se lê o apelo: “Ajude seu pequeno amigo”.
E olha que todo santo dia flertava com o arquivo, sem ânimo de abri-lo, receoso
de rascunhar qualquer coisa, para cumprir tabela. Joselito merecia coisa melhor
que uma qualquer.
Não sei se ainda serve ou se ao menos
interessa saber. De toda forma, poeta, acabo de ler cada uma das 46 laudas de
sua obra, dos 80 poemas e das oito crônicas, a começar pelo abraço de Marina,
onde “me encontro/ me perco/ e me acho”, até o duplo sacrifício, seu e das
sementes de sucupira.
Gostei, bicho, o livro é de primeira. É
todo você, em letra e alma, com a humanidade escancarada, coração aberto, o
gigante de caráter, força e sentimentos que percebi já ao ler seu primeiro
livro, ainda eu morando em Natal e o amigo na Terra de Todos os Santos, antes
de encontrá-lo olho no olho.
“Não conheço o autor pessoalmente, só
por meio da Internet e de telefonemas”, disse aos 15 de agosto de 1999, “mas o
seu trabalho é confessional de tal modo que chego a ter a impressão de
convivermos há anos”. Escreveria a mesma coisa agora, se já não o conhecesse na
presença física e dos versos.
É o retrato falado – seria escrito? – do
artista de Alagoinhas, que “Não cabe num livro para se ler”, capaz de moldar “lembranças,
perfumes e dilemas” e dar nó em pingo de orvalho com os ventos da madrugada,
afinal a “Paixão é um troço que aparece” a fim de que se faça poesia entre
sonhos e realidade.
Tomara que a demora em dizer algo sobre o
seu verbo seja interpretada à luz de “A coisa humana”, dos universos “animalecidos”
que se distanciam, por vezes, “destruindo pontes/ cortando laços”, até que um
dia a palavra “faz-se do repente um instante inteiro” e se nos concede o
privilégio do reencontro.
Se bem, meu caro, que a fala deste
jornalista sertanejo lhe é dispensável. Sempre foi. Seu autorretrato, na
crônica “Eu por mim mesmo”, basta enquanto apresentação do autor e do conjunto
da produção, traduzidos na voz que se levanta do beco e vence o preconceito e a
dificuldade, falando de amor.
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