sábado, 10 de outubro de 2015

CONTO MEIO CRÔNICA QUASE ERÓTICO



Três amigos concluíram que chegara a hora de botar ponto final na donzelice. Era segunda-feira, baixa estação no meretrício, único recurso disponível para causas da espécie numa época de moças tecnicamente recatadas, muito antes da invenção diabólica da internet, quando ninguém imaginava a democratização da libido nas redes sociais.

O tio de um deles dera o toque quanto ao lugar perfeito, o famoso Cabaré de Dorinha, no coração do bairro Santo Antônio. Indicara também a santa, Camilinha, sua amiga, linda e caridosa morena de olhar de esfinge, que se oferecera em expiação, por módicos cruzeiros, para devorar a tempestade de hormônios dos vibrantes corações juvenis.

Com 13 anos, embora a natureza contrarie a Lei, pessoas sentem desejo. Aos moleques antigos, perder o cabaço dava status. Um deles precisava inclusive lavar a honra no esperma, pois brochara com Mocinha nas ruínas da antiga Casa da MPB, no Rabo da Gata, onde a ninfeta reuniu a galera a fim de provar a uma amiga que dava conta de 10 caras.

Saiu-se mal na aposta porque um, como se sabe, não deu no couro, irritando-a a ponto desmoralizá-lo com a disseminação do fracasso. Outro jeito não restava ao rapaz, salvo aplacar a história com sexo. E Camila parecia a chance ideal, de maneira que nem pestanejou ao subir a bicicleta e pedalar com os comparsas na direção da casa de recurso.

No destino, como se não bastassem o medo e o cansaço, a cena dos meninos estacionando as magrelas na calçada chamou logo a atenção dos presentes, que gritavam em meio à risadagem geral: “Vão perder o cabaço!... Vão perder o cabaço!... Até que Nequinha, o gerente, interferiu com seu famoso “Tem nada a ver!” e os levou à suíte da moçoila.

O cômodo era minúsculo para a denominação pomposa. Dera-se por suíte, contudo, pelo fato de haver nele compartimento de asseio equipado com quartinha, bacia, sabonete Phebo e toalhas. Os lençóis da cama cheiravam a sabão de coco e o ambiente tinha um hálito de colcha de retalhos de perfume açucarado, aguardente, fumo e genitálias.

“Quanto custa”, perguntaram. “São os três, não é?”, retrucou a dona. “Sim, so...somos três”, retomaram a palavra com olhos nos peitos da dita cuja, que os desafiavam pelas frestas do vestido. “Hun... Quanto vocês têm?”. Meteram mãos nos bolsos e expuseram argumentos. “É pouco, mas a noite tá fraca e me dou por caridade. Quem é o primeiro?”.

Os espíritos gelaram. “Zerinho ou um, quem ganhar fica por último”, propôs o da decepção com Mocinha. Os demais, igualmente tensos, concordaram. “Zeriiiiiin ou um... Perdeu, vá você”. E foi assim: os colegas e a mulher que se refugiara no recinto “fugindo de um macho” assistiam Camila ler quadrinhos enquanto o garoto metia – e tirava – brasa.

Pausa do cigarro. Reinício da função. O menino 2 entra em cena e, lá para as tantas, suspende o ato e passa ao interrogatório sobre aspectos pessoais e psicológicos da figura entre suas pernas. Clima tenso e brochante domina a todos, até que o menino 3, vendo a hora perder a chance de defender sua masculinidade, sai no berro: “É minha vez!”.

Dessa feita, terminou de cabeça erguida, todavia por mera questão de honra, pois não atingiu o pretendido orgasmo para compará-lo ao das satisfações manufaturadas. Puta com as perguntas indiscretas, Camila já não foleava Gasparzinho, o fantasminha camarada, e exibia a pressa de anteontem: “Goza logo, amore, tem cliente esperando lá fora”. 

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