sábado, 3 de janeiro de 2015

O tempo de Paulo e as pétalas de Florina


Cheguei à praia no fim da tarde, o mais tarde que pude, por causa de minha relação de amor e ódio com o litoral. Trouxe livros que vou lendo devagarinho, pois a maresia obriga-me a lavar as lentes dos óculos de quando em quando e o balanço da rede dá um sono dos diabos.

Na primeira noite, os poetas Paulo Maia e Florina da Escóssia fizeram-me companhia. O livro de Paulo Maia, “Tempo Quanto Tempo”, tomou-me a atenção desde a dedicatória de Sofia, a ilustradora: “‘F’ de feliz porque você comprou o livro meu e do meu pai”. Viu aí?

Poemas de amor, essencialmente, amor à musa, ao ofício, a Natal, escritos ao longo de 17 anos, segundo revela o autor, e apadrinhados no prefácio de Diógenes da Cunha Lima. Gosto de poemas de amor, músicas de amor e até das mentiras do amor, desde que haja amor.

Tomo a liberdade de recomendar, além daquele que dá título à publicação, os textos Retrato, Janeiro, Deixar Natal é Abandonar a Pátria, A Liberdade, Mente, De Repente e Lápide, sem descuidar dos desenhos de Sofia, cuja assinatura arrasta um coração na perninha da letra “a”.

Nas linhas iniciais de Florina, vi Lauro da Escóssia, o velho, caminhando com o joelho ardendo. Quase alcancei o lançamento de “Pétalas”, também de joelho em petição de miséria, mas o acidente envolvendo um amigo que precisou de auxílio desviou-me do caminho.

A paráfrase de Pasárgada contrasta com a terra imaginária de Manuel Bandeira, onde há prostitutas bonitas e alcaloide à vontade. Por que mendigar a amizade do rei quando se pode ser rainha investida dos poderes necessários para deitar e rolar na reinvenção da poesia?

Ao ler “Sou Fruto de Mossoró e Tibau”, referenciado na orelha de Aluísio Barros e no prefácio de David Leite, pesou-me a consciência por reclamar da maresia nos óculos. Saudade das feições antigas da Rua do Brisa, dos morros coloridos, das pranchas de isopor, dos tatuís.

“Tempo Quanto Tempo” é de 2010 e foi editado pelo livreiro Abimael Silva, do Sebo Vermelho; enquanto “Pétalas” ganhou tinta e papel no final de 2014, sob os auspícios da editora Sarau das Letras, projeto recente, mas já vitorioso dos escritores David Leite e Clauder Arcanjo.


Tudo lido e escrito, resta implorar que o sono dê as caras antes de o Sol anunciar-se na janela ou de a maré-cheia lamber a soleira da porta, naquela orgia das ondas com o vento. Ou pior, antes que o batalhão de meninos sem regimento antecipe a inauguração da manhã.

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