sábado, 12 de janeiro de 2013

Memória fotográfica



Velhas palavras não enchem o bucho de uma crônica. De qualquer maneira, revendo-me na fotografia antiga postada no "Feicibuqui" por Ricardo Lopes, retratista afamado em Oropa, França e Bahia, comecei a me recordar do tempo em que andava com a barba cheia e dura - cheia de falha e dura de crescer - recitando poesias nas ruas, nos bares, nos ônibus.

E aquele encontro, hein? Parece praia, talvez Tibau. É Tibau. Dois litros de Pitu quase vazios sobre a mesa, às vistas de Telma Gurgel, Amarildo Lima, Arlete, João Eugênio, Laércio Eugênio, eu, Mazinho Viana, Tércio Pereira, Lucas, Rapozinha e o próprio Ricardo Lopes, além da criatura por trás da máquina fotográfica.

Faz 14 anos, conforme cálculos do artista plástico, ufólogo e poeta Laércio Eugênio, presidente perpétuo do Instituto Intergalático de Recuperação de Pessoas Normais, entidade que fundamos mais ou menos na época, em meio às obras do campo de pouso para discos voadores que o referido calculista construiu na laje de casa.

Requentando o verbo e os fatos, percebi o acréscimo de uns 10 quilos  de gordura e 20 centímetros de circunferência abdominal de lá para cá, depois que um observador indiscreto afirmou, para delírio da redação do jornal O Mossoroense, "Vixe, Cid era magro!". Sem problema, pois, conforme o jornalista e publicitário Stenio Urbano, que parece um sebite, homem sem barriga é homem sem história.

Sou a favor de repetirmos o encontro, a pose, o bate-papo. E até a Pitu, desde que suavizada com limão, refrigerante... Eta, diacho, tô todo arrepiado!

Precisaremos fazer adaptações. Arlete, por exemplo, não aguentará mais João Eugênio no colo, pois o cabra, então com um ano de idade, está maior do que todos os envolvidos no episódio.

Por favor, levem o violão para Mazinho, orgulho da música nordestina, parceiro de Regina Casa Forte; e um gorro diferente para Ricardo Lopes. O azul-bebê saiu de moda após longos oito anos de perseguição contra veículos e profissionais de comunicação que não aceitaram lhes mostrar o fundo das calças.

Há 14 anos, muito provavelmente em janeiro, ainda não se pensava na compra de terras à margem esquerda da Gangorra, na expectativa da duplicação da estrada decuplicar o valor do patrimônio. A galera, mesmo assim, não tinha enfado em vencer os buracos do caminho estreito, sem acostamento e mal sinalizado para encher as vistas com o mar de Tibau.

Ainda havia morros de areias coloridas. Poucos, é verdade, mas havia, entre eles o das sete cores.

O labirinto onde os namorados se perdiam, os pingas, as vertentes, a Pedra da Sereia, as jangadas, as aventuras de Jeremias, Ananias, Tidó, o peixe fresco no balaio, tudo a que o tempo deu a dimensão onírica da casa do avô de Manuel Bandeira.

A Pedra do Ceará, penetrando o oceano com seu falo argiloso nas marés cheias, ostentava certa virilidade.

Eu, impregnado de juventude, escrevia sem dar por métrica, rima, estética, amava despreocupadamente na areia da praia e vencia quixotescas batalhas contra moinhos de vento.

Quanta saudade na memória de uma fotografia. Manda outra, Ricardo Lopes, que é pra gente lembrar. E sonhar.

Um comentário:

Frank Dantas disse...

Parabéns pelo texto. Lendo dá uma vontade doida de voltar no tempo e viver esse passado, que infelizmente não volta nunca mais.