sábado, 12 de novembro de 2011

Passaporte diplomático


Viajei bastante, conheço razoavelmente bem o Rio Grande do Norte, quase todos os Estados brasileiros, alguns países. Nas viagens ao exterior, há sempre a preocupação com a entrada. Sei de pessoas que, mesmo atendendo ao rol das chatices burocráticas, foram barradas, humilhadas e obrigadas a voltar, amargando prejuízo econômico e frustrações.


Da última vez que estive nos Estados Unidos, terra de muitos amigos queridos, o agente da imigração foi extremamente grosseiro. Fez comentários hostis, meneava a cabeça a cada pergunta que lhe respondia, avaliava a documentação com desconfiança. Escolheu-me para saco de pancadas ou para externar sua xenofobia idiota contra latino-americanos.


Entrei. Irritado, mas entrei, certo de que aquele é comportamento isolado. Os colegas do indivíduo, nos guichês de atendimento espalhados no imenso salão do Aeroporto Internacional de Miami, atendiam aos visitantes com cordialidade. O mesmo posso dizer dos servidores do Consulado Americano em Recife-PE, aos quais submeti duas solicitações de visto.


Quem já saiu por aí com passaporte pé-duro igual ao meu compreende. Edir Macedo, chefão da Universal e da Rede Record, cansou dos maus tratos, fincou pé e recebeu do Itamaraty, semana passada, um passaporte diplomático. O missionário R.R. Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, inquilino da Bandeirantes, obteve o dele muito antes.


O jornalista Lauro Jardim esclarece na coluna Radar on-line, da Veja, que "Os portadores de passaporte diplomático têm tratamento diferenciado nos aeroportos e alfândegas. Além de não pagar pelo documento, a vantagem mais evidente é a dispensa da revista aqui e em vário países. Também não enfrentam filas". Quem me dera nunca entrar em filas!


A própria comunidade evangélica chiou. De outros segmentos, lógico. Houve quem dissesse que as Sagradas Escrituras são o passaporte necessário aos mensageiros da palavra. Nesse caso, acredite: a Bíblia não funciona. E ainda: o comportamento do governo representa um passo na concretização do Estado laico que a Constituição prevê desde 88.


Há muito tempo os cardeais católicos possuem o direito recém-conquistado pelos dois líderes do cristianismo luterano. Penso, e me perdoem a franqueza, que, em vez de ampliar, Brasília deveria cassar o privilégio dos religiosos. Todos. Do contrário, daqui a pouco, Fernandinho Beira-Mar funda a Igreja Internacional do Pó e ganha folga diplomática.


Pela caridade, pelo amor de Nossa Senhora das Bicicletas do Pedal Quebrado, não digam que estou comparando Beira-Mar aos cardeais católicos e ministros protestantes. A questão é outra: se o passaporte diplomático destina-se também a sacerdotes, qualquer deles pode requerê-lo, seja a entidade séria ou picareta, desde que legalmente constituída.


Da parte deste caboclo avesso a salamaleques, restam o estresse das entrevistas de admissão, o risco de voltar de um aeroporto se a mulher do entrevistador tiver dormido de calças jeans na véspera da sabatina. Mas, beleza! Se isso acontecer, viajo a Bilica ou ao La Boquita De La Noche, onde passaporte azul tem potencial superior ao vermelho.


Um comentário:

Anônimo disse...

Com que moral este herege irá contestar o aborto ?
Como poderá este apóstata lutar contra as aberrações deste governo ?
Vendeu-se o adorador do dinheiro e por um mísero passaporte.
Que líderzinho fraco e serviçal do poder econômico !
Homenzinho sem brios. Vendeu-se por migalhas. Líder cego e escravo do dinheiro.