sábado, 21 de maio de 2011

O flautista de Bath



Logo que desci na Orange Grove e comecei a caminhar na lateral da Abadia de Bath, cidade encravada no Oeste da Inglaterra, ouvi o solo de flauta. Era um sábado, por volta das 13 horas, e fazia frio, algo em torno de zero grau, conforme atestava o termômetro do Ônibus.

Na Abbey Church Yard, onde se localizam as entradas da abadia e das termas romanas, estava ele, o flautista. Solitário, o velho alto, de cabeça e barbas brancas, tirava suaves canções da flauta de metal, fazendo gestos de reverência sempre que alguém depositava alguns centavos de libra no gorro de lã deixado ao chão. Na Inglaterra, isso é comum. Principalmente nas cidades turísticas, os artistas vão às ruas, sozinhos ou em grupos, batalhar a sobrevivência.

As pessoas param a fim de ver e ouvir. Se gostam, pagam. Outras seguem indiferentes ou apressadas. O malabarista que se apresentava a poucos metros, no mesmo pátio, atraiu bem mais atenção e dinheiro do que o flautista. O mímico vestido de manta azul, na Union Street, também. Mas nenhum deles demonstrava em seus respectivos ofícios a obstinação, o fôlego e a poesia do velho músico. Visitei as termas romanas, construídas no século I, que dão nome à cidade (Bath significa banho).

Na volta à praça, lá estava ele, firme e forte, transformando o frio em calor com a música, como se fosse o flautista de Hamelin, do conto de Joseph Jacobs, que conhecia melodias para todos os fins, talvez até para se defender das intempéries.
Caminhei nas ruas, observando monumentos e casas construídos no melhor estilo georgiano. Parei para fotografias. Para consultar mapas. Para olhar vitrinas. Para comer. Para alimentar pombos.

Ainda o inspirado flautista trabalhava. Adentrei a Bath Abbey, em cujo frontispício anjos pétreos escalam eternamente a escada de Jacó rumo ao céu. No interior, distrai-me apreciando vitrais que narram a vida de Cristo e tentando ler inscrições medievas.

Ao sair, às 4h30min, eis ali, impávido, o flautista. Coloquei, então, uma libra no gorro e parti levando a imagem do velho artista estampada nas retinas e o som da flauta gravado na memória.

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